Uma questão de saúde pública. É como Moacir Ferreira da Silva, engenheiro e pesquisador da Faculdade de Saúde Pública (FSP), define a emissão de partículas inaláveis por veículos automotores. "Partículas sólidas menores que 10 microns (ou seja, 0,0001cm) são potencialmente perigosas porque penetram e se alojam no sistema respiratório. Atualmente elas representam 65% das emissões veiculares", afirma o pesquisador.
Em agosto de 2007, Ferreira defendeu sua dissertação de mestrado na FSP. Sua pesquisa consistiu na análise dessas emissões por meio de experiências em laboratório. O estudo, realizado no Laboratório de Emissão Veicular da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb), foi o primeiro do tipo no Brasil.
De acordo com o pesquisador, os resultados obtidos sugerem a necessidade de mudanças na legislação brasileira sobre o assunto. No Brasil, esse tipo de regulação só existe para veículos movidos a óleo diesel. Em outros lugares, como nos Estados Unidos, ela existe para veículos de todas as categorias. "Nós temos apenas 500 mil ônibus rodando. Os automóveis são 6 milhões. É necessário controlar as emissões deles também", diz o pesquisador, que é gerente da Divisão de Programas e Fiscalização de Veículos da Cetesb. Para ele, é necessário impor limites para emissão de partículas finas para definir políticas públicas que melhorem a qualidade do ar respirado nos grandes centros urbanos.
"Nós utilizamos um dinamômetro de chassi para imitar a circulação de um carro numa situação de tráfego real. Isso significa simular congestionamentos, paradas em semáforos e outras situações comuns para o motorista", conta. Pela preocupação em reproduzir as condições reais de tráfego, o estudo levou em conta também a qualidade do combustível disponível no mercado.
"Trabalhamos com as gasolinas premium, adulterada, aditivada. O mesmo vale para o álcool combustível", afirma Ferreira. Nos veículos a gasolina, a pesquisa constatou que as emissões são maiores quando o veículo é abastecido com gasolina premium. "Isso se deve, provavelmente, à característica desse tipo de gasolina de impedir a acumulação de reíduos no motor", diz Ferreira. Na simulação com veículos movidos a etanol não houve variação significativa entre os tipos de álcool testados.
Metais particulados
Outro ponto destacado pelo especialista é a presença de metais particulados. Segundo Ferreira, a toxicidade desses elementos não foi totalmente estabelecida, mas os estudos apontam sua nocividade. "Sabe-se, por exemplo, que o mal de Alzheimer está relacionado de alguma forma com a presença de alumínio no organismo. E o alumínio foi um dos metais com maior ocorrência durante os nossos testes", diz.
Questionado sobre o rodízio adotado na cidade de São Paulo, Ferreira afirma se tratar de uma ferramenta ineficiente para resolver o problema ambiental. "Na maioria das vezes, o cidadão que não pode rodar compra um carro antigo, mais barato, e acaba emitindo muito mais partículas sólidas, gases estufa e outros poluentes", conclui.
(Por Renato Sanchez, Agência USP, 03/01/2008)