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transposição do são francisco hidrelétricas do rio madeira
2008-01-03
Na semana em que se celebra o Dia Internacional dos Direitos Humanos (10 de dezembro), o Brasil vive fatos emblemáticos, produzidos pela ofensiva dos interesses do capital internacional, aliado com fazendeiros capitalistas, sobre os recursos naturais e os direitos humanos.

O primeiro caso diz respeito ao projeto de transposição do rio São Francisco.  A greve de fome de frei Luiz Flávio Cappio, iniciada dia 27 de novembro, entra num período crítico e preocupante.  Enquanto isso, o governo Lula escalou o ministro da Integração Nacional Geddel Vieira Lima, que, na campanha eleitoral, era contra o projeto, para agora defendê-lo com unhas e dentes.  E não quer mudar nada do projeto.

Por que tanta intransigência com a manutenção de um projeto que vai gastar R$ 6,6 bilhões em dois canais mal explicados?  O eixo norte despejará água num distrito industrial vizinho a Fortaleza (CE), e nenhuma família de camponeses do Semi-Árido cearense poderá ter acesso à água.  Isto quer dizer que o canal é apenas um acordo político com os interesses da burguesia do Ceará.  O eixo leste vai cruzar Pernambuco e levar água até Campina Grande (PB).  Os usineiros pernambucanos colocaram propaganda na TV Globo local explicando que já compraram 100 mil hectares nas margens do canal e que agora vão produzir cana irrigada no sertão.

Os movimentos sociais e as igrejas ao longo do rio São Francisco defendem o projeto da Agência Nacional de Águas, também ligada ao governo, que propõe soluções locais que, com a apenas R$ 3,6 bilhões, resolveria o problema do acesso à água potável de todos os municípios do Semi-Árido.  Defendem também a liberação de recursos para as cisternas familiares, que, com apenas R$ 1 bilhão, resolveria o problema de um milhão de famílias de camponeses.  E, para a cidade de Campina Grande, a construção de uma adutora de água na foz do rio poderia resolver o problema

Mas, como disse frei Luiz, não se trata de discutir a solução da seca para os camponeses e pobres.  Trata- se de defender os interesses das empreiteiras que adoram grandes obras e dos grandes projetos que vão usar a água como um negócio, hidronegócio.  Agora, canalizada, a água do rio vira água privada, uma mercadoria valiosíssima.  Assim, a sanha do capital é capaz de cobrar a morte do bispo, sem nada recuar.

Syngenta criminosa
A transnacional suíça Syngenta Seeds é uma das maiores do mundo.  Controla a produção de venenos, e também dos remédios, se alguém ou algum animal ficar doente.  Vende sementes transgênicas.  Foi pega fazendo experimentos de forma ilegal.  E mais: próximo ao parque nacional do Iguaçu, no Paraná.  O Ibama a multou em R$ 1 milhão.  A empresa recorreu da multa, mais Justiça Federal confirmou a decisão.  Esses crimes ambientais eram praticados numa pequena área de 136 hectares, próximos ao parque nacional.  O governo paranaense, sabiamente, desapropriou a área para montar um centro de sementes crioulas.  Mas a transncaional, com os melhores advogados do Paraná, "convenceram" o Poder Judiciário a suspender a desapropriação.  No final de outubro, não satisfeitos, contrataram milícias de pistoleiros, sob o manto de uma empresa de segurança, e, em pleno domingo de manhã, atacaram o acampamento da Via Campesina, matando um dos líderes, Valmir Mota de Oliveira, o Keno.  Em protesto, a Via Campesina do Brasil e de todo o mundo iniciou uma campanha de denúncia contra essa empresa.  O governador do Paraná, Roberto Requião, chegou a declarar que seria melhor essa empresa deixar o Brasil, que não precisamos dela aqui, que só veio para explorar.

Como se pode perceber, os interesses do capital internacional não medem conseqüência.  Eles não só agridem os direitos coletivos do povo brasileiro, sobre nossa água, nossa biodiversidade, nossas sementes, como também ousam patrocinar o assassinato de trabalhadores.

Hidrelétricas: lucro fácil
No dia 10, o governo levou a leilão a construção da primeira usina hidrelétrica do rio Madeira, em Rondônia.  Mas a quem interessa as hidrelétricas do rio Madeira, há 5 mil quilômetros dos principais centros urbanos consumidores?  A resposta é: a produção de energia se transformou apenas numa mercadoria.  Portanto, interessa a quem as exploram - porque tem retorno garantido nas mais elevadas taxas de lucro - e às empresas transnacionais que vêm ao Brasil em busca de energia barata.

Tristes tempos do neoliberalismo.  Mas certamente, algum dia, o povo brasileiro se dará conta e se levantará.  Não apenas para protestar e denunciar, como fez a Via Campesina Brasil e internacional na semana do dia 10.  Mas para exigir mudanças na forma de produzir nossa agricultura e na garantia da soberania popular sobre nossos recursos.

(Agência Brasil de Fato / Amazonia.org, 01/01/2008)

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