É bom começarmos o ano fazendo algumas reflexões. O tempo e a ciência se encarregaram de demonstrar que os problemas ambientais são problemas globais.
Não importa qual deles se considere, o fundamental é que precisamos abordá-lo com uma visão holística. Por que dessa maneira seremos capazes de anlisá-lo em seu sentido mais amplo – sem omitir, no que for possível, variáveis ou elementos em jogo – o que facilitará nossa compreensão e melhorará as possibilidades de êxito na tomada de decisões.
Até agora o habitual tem sido que os temas ambientais sejam considerados de maneira fragmentária (ou dito de outra maneira, vistos através de uns poucos prismas), o que aumenta consideravelmente o risco de equívocos. A razão é que este procedimento nos permite ver só alguma das partes e não o todo. Se algo estamos aprendendo, é que a realidade é muito mais que a soma das partes.
O aquecimento global é um bom exemplo disso.
Agora sabemos que os saberes tradicionais, populares, ancestrais e empíricos são essenciais para enfrentar a crise ambiental que padece a humanidade. Boa parte de nossas melhor tecnologia está baseada na observação de como funciona a natureza, e muitos de nossos melhores medicamentos provém dos conhecimentos de povos antigos.
Estamos reclamando o que se tem chamado de “diálogo de saberes”, ou seja, um processo ativo de comunicação entre pessoas ou grupos de pessoas provenientes de culturas diferentes, de experiências e visões distintas, para que compartilhem seus conhecimentos na hora de buscar soluções aos problemas da população.
Ao mesmo tempo necessitamos alcançar níveis superiores de ação aos atuais, e assumindo muita responsabilidade.
Todos somos protagonistas múltiplos e insubstituíveis da realidade. Os governantes (nacionais, estaduais, provinciais e municipais) assumindo cabalmente seu papel regulador e condutor até paradigmas mais sustentáveis de desenvolvimento.
Os parlamentares e congressistas exercendo sua função legislativa e de controle, atualizando e modernizando o marco normativo para conduzir a sociedade pelos caminhos da sustentabilidade e da eqüidade.
O sector produtivo, compreendendo que o correto é produzir sem agredir o ambiente além dos limites mínimos e das ameaças de sanções.
Os que exercem a Justiça, compreendendo que os problemas ambientais encerram um alto conteúdo ético, pois impactam em todos os aspectos da vida da sociedade. Os consumidores, para que exerçam com consciência seu poder de decisão na hora de escolher, e ao mesmo tempo, para que assumam condutas responsáveis em matéria de níveis de consumo.
A educação deve incorporar decididamente os princípios, enfoques e pautas da educação ambiental a todo o sistema, em especial a formação docente, como forma de combater a visão fragmentária da realidade que tem ensinado até a atualidade.
A sociedade civil organizada, através de ONGs e outras organizações, joga um papel também fundamental “propositivo”, executivo e controlador.
Por último, os jornalistas são chamados a incorporar esta visão holística da realidade a seu trabalho (hoje proposta pelo jornalismo ambiental) para contribuir na construção de uma socieade informada, reflexiva e participativa. (tradução: Ulisses A. Nenê)
(Por Por Hernán Sorhuet,
EcoAgência, 02/01/2008)
*Hernán Sorhuet Gelós é jornalista e escreve sobre meio ambiente para o
El País, de Montevidéo, Uruguai, onde o artigo foi publicado
originalmente.