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frigoríficos/agroindústrias
2008-01-03
O Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo , são mais 2 milhões de toneladas, atingindo em 2007 uma quantia de quase 5 bilhões de dólares. Um crescimento significativo nos últimos quatro anos. Detentor do maior rebanho comercial do mundo, com 205 milhões de cabeças, o país também continua a desafiar os serviços de inspeção de outros países, o exemplo maior é da União Européia. O comitê regulador dos assuntos de sanidade animal da Europa já avisou as autoridades , indústrias e produtores brasileiros que se não cumprirem as determinações de rastreabilidade do rebanho, as exportações serão suspensas, a partir de 31 janeiro.

A Europa não é a maior compradora de carne do Brasil, mas é a que compra os cortes mais valorizados (do traseiro de boi – filé migmon, alcatra e contra-filé). Uma tonelada de cortes pode variar entre 7.500 dólares até 10 mil dólares. A carne comum, do dianteiro de boi, normalmente é exportada para Rússia e Egito é muito mais barata, em torno de 1.500 dólares a tonelada. Por isso mesmo os avisos dos europeus precisam ser levados em consideração.

Rastrear o rebanho significa definir a sua origem e o tipo de vida que o animal terá até o dia de abate. Aliás, foi um plano apresentado pelo ex-ministro da agricultura, Marcos Pratini de Moraes, hoje presidente da entidade maior das indústrias da carne, seu maior executivo. A preocupação dos europeus é legítima porque não querem saber de novas doenças no rebanho, e o Brasil não é uma área livre de aftosa – o rebanho é vacinado. Embora, tenham sido os europeus os inventores da vaca louca, inflamação que atinge o cérebro dos bovinos – resultado da prática de usar restos de carnes e ossos na ração dos animais -, a rastreabilidade também tem outra conotação. Justamente a da origem da carne.


Europa não brinca
Estados como os do Pará (crescimento de 76% no rebanho no período 2000 – 2005) e Rondônia (crescimento de 100%). São 12,8 milhões de cabeças no Pará conforme o censo Agropecuário do IBGE, de dezembro 2006. Em Rondônia o rebanho é de 8,7 milhões de cabeças, somando os dois estados mantêm mais de 21 milhões de bovinos. Sem contar o Mato Grosso, maior rebanho do país com uma quantidade superior a 25 milhões de cabeças, produzem carne, no meio da Amazônia. Milhares de hectares desmatados logo em seguida são ocupados com rebanhos.

Os europeus estão entre os povos mais preocupados com emissões de gases estufa, onde o Brasil se situa entre os 10 primeiros emissores, em conseqüência da queima da floresta. Em Bali, na Indonésia, na última reunião mundial sobre o futuro do Protocolo de Kyoto eles defenderam uma redução entre 25 e 40% até 2020. Os investimentos em energias alternativas, como eólica, solar e de marés são evidentes. A Inglaterra pretende suprir até 15% da energia com o aproveitamento das marés. A Dinamarca usará 20% da energia dos ventos no seu consumo interno. Não é só isso. Casas são planejadas para consumir menor volume de energia, grupos se organizam em cooperativas para montar sistemas alternativos de produção, com o uso de painéis solares, e a busca pela redução do consumo de combustíveis produzidos a base de petróleo. As escolas começam a ensinar a necessidade de reduzir o consumo de energia, crianças usam roupas mais apropriadas, para enfrentar o frio, quando a calefação é desligada.


Rei da soja
E chegará a hora quando os europeus, checando a origem dos produtos que estão sendo importados do Brasil, se perguntarão: como vamos comprar carne e farelo de soja produzido na Amazônia? A Amazônia é peça vital no funcionamento do clima planetário. Isso está mais do que provado. È visível nos satélites. As grandes massas de umidade que se dividem no Equador, uma parte dirigindo-se ao Sul, em direção à Patagônia, e outra em direção ao norte, passando pelos Estados Unidos e Europa. De leste da Amazônia, a umidade que vem do oceano, até alcançar a cordilheira dos Andes e ser rebatida, chega a cair e voltar a atmosfera seis, sete vezes, tamanha a reciclagem do vapor d’água e a quantidade de energia retirada do ambiente. O estado do Mato Grosso detém vários títulos: maior produtor de soja, mais de 5 milhões de hectares ocupados, 18 milhões de toneladas, o maior rebanho bovino, e ainda é o maior produtor de algodão. Grande parte do seu território é Amazônia. Quando o governador Blairo Maggi assumiu, defendendo a expansão da soja na floresta – ele é o maior produtor mundial – desencadeou um processo que levou aos maiores índices de desmatamento e ao recorde no número de focos de incêndio. Até a revista britânica “The Economist” fazer uma capa falando que o rei da soja estava botando fogo na floresta. Internamente lideranças ruralistas defendiam a retirada de Mato Grosso da “Amazônia Legal”, como se fosse possível ignorar a floresta. Depois aconteceu a operação “Curupira” da Polícia Federal, prenderam várias autoridades envolvidas com extração ilegal de madeira.

A situação mudou um pouco, o posto de maior incendiário agora está com o Pará. Os europeus não estão brincando de sustentabilidade e de lutar pela redução das emissões de gases estufa. Se o Brasil quiser dar uma de esperto, ou achar que está por cima da carne seca (literalmente) pode tomar uma cacetada. O país é líder mas tem uma pecuária com índices extremamente baixos em produtividade na média nacional.

Não é livre de aftosa, tanto que não exporta para Estados Unidos e Japão , os maiores mercados. E se não definir claramente onde produzirá carne com eficiência, respeitando o ambiente, inibindo o desmatamento e recuperando os mais de 50 milhões de hectares de pastagens degradados no cerrado, vai ser barrado no mercado mundial.

(Por Najar Tubino, EcoAgência, 02/01/2008)


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