Assoreamento, desmatamento e extinção de espécies estão entre os problemas
O Parque Indígena do Xingu (PIX) abrange uma área de 2,8 milhões de hectares. É uma terra indígena demarcada em 1961 e homologada, localizada no norte do Estado de Mato Grosso. O processo de colonização iniciado na década de 1970 e o plantio de soja dos anos 1990 colocam em risco esse cartão-postal, o sétimo da série especial Cartões-Postais Ameaçados.
No vasto território do PIX estão representados os principais troncos lingüísticos do país – Aruak, Karib, Jê e Tupi – em 16 etnias entre os cerca de 5 mil habitantes indígenas.
Além dessa diversidade cultural, o parque abriga também paisagens da Floresta Amazônica, dos Cerrados, dos Campos, da Floresta Ribeirinha e de um tipo especial, denominado Floresta Estacional Perenifólia, ou "Florestas Secas". Trata-se de um tipo de vegetação adaptado, tal como os cerrados, ao clima de chuvas e secas prolongadas sem, entretanto, perder todas suas folhas.
O PIX faz parte da grande bacia hidrográfica do Rio Xingu. O Xingu nasce no coração do Brasil, norte do Mato Grosso (no Planalto dos Guimarães), e possui mais de 2,7 mil km de extensão. Outros rios importantes se juntam a ele, formando uma bacia hidrográfica com quase duas vezes a área do Estado de São Paulo, até desaguar no Rio Amazonas. No total, mais de 30 povos indígenas habitam ao longo do Xingu, descendentes de outros povos que ocuparam a região há milhares de anos, como mostram registros arqueológicos encontrados nos rios Iriri e Curuá (no Pará) e nos arredores de Ribeirão Cascalheira, Água Boa e Nova Xavantina (no Mato Grosso).
Poucas expedições de missionários e cientistas se aventuraram a desvendar essa região até o início do século XX, mas esse paraíso, que até a década de 1950 era habitado somente pelos povos indígenas, deixou de ser impenetrável. Os territórios tradicionais indígenas se estendiam ao leste, a oeste, ao sul e ao norte das fronteiras do PIX e ficaram fora de sua demarcação, para dar lugar a ocupação e desenvolvimento das fronteiras agrícolas. A cabeça do Xingu está doente, anunciam os índios ao virarem o mapa de ponta-cabeça.
As nascentes do rio, que também ficaram fora das terras indígenas, estão comprometidas pelo assoreamento. Se não fosse pelas terras indígenas que preservam quase 40% da bacia, possivelmente toda essa região já teria sido ocupada. No mapa das nascentes do Xingu, grandes manchas laranja se destacam ao redor das terras indígenas. São áreas desmatadas de fazendas de pecuária e soja. Quando a floresta é retirada, a chuva lava os solos e carrega os sedimentos para dentro dos rios; a água fica turva e muitos peixes desaparecem.
A origem dessa mudança se deu recentemente, através de um processo de colonização durante a década de 1970, bastante convencional – derrubada da floresta a ferro e fogo para ocupar e desenvolver esse "meio caminho" para a Amazônia, com mão-de-obra de milhares de produtores agrícolas do Sul, Sudeste e Nordeste do país. Vilas, estradas, cidades e vastas áreas de monocultura tomaram mais de um terço da região em apenas 40 anos. Às vezes a exploração madeireira foi tão intensa, que restaram poucas árvores-mãe – aquelas que fornecem grande quantidade de sementes – levando à quase extinção de algumas espécies de alto valor econômico, como o ipê-roxo.
Nos anos 1990, o cultivo da soja impõe um ritmo de desmatamento ainda maior. A região das nascentes do Xingu perdeu mais de 4,5 milhões de hectares de sua vegetação original, enquanto políticos e cientistas estudam, discutem e divergem sobre como e onde proteger as florestas e os cerrados e onde ceder lugar à monocultura de grãos.
(ClicRBS, 03/01/2008)