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hidrelétrica três gargantas passivos de hidrelétricas
2008-01-02
Após anos de elogios oficiais ao projeto Três Gargantas – que resultou na construção da maior usina hidrelétrica do mundo – autoridades chinesas começam a admitir a possibilidade de uma "catástrofe ambiental" ocasionada pelo projeto. A represa, que criou um reservatório de 640 quilômetros de comprimento, sofre deslizamentos de terra, geração de lodo e erosão. O acúmulo de todos estes elementos pode, de acordo com especialistas, dar lugar a um desastre ecológico se não houver a uma solução rápida. Embora este ponto de vista seja mantido por ambientalistas e observadores independentes durante anos, Pequim calou a oposição interna ao projeto, destacando a capacidade da represa de controlar as inundações nas estações chuvosas e gerar energia hidrelétrica.
Hoje, Três Gargantas produz energia suficiente a cada ano para substituir 50 milhões de toneladas de carvão contaminante e reduzir as emissões de carbono da China em cem mil toneladas. A estrutura de 185 metros de altura no rio Yangtze – o maior da Ásia – acabou de ser construída em 2006 e toda a central ficará terminada em 2009. A represa, situada em Sandouping (província de Hubei) e com um orçamento de US$ 22,5 bilhões, conta com um dique de 2,3 quilômetros de comprimento. Quando ela estiver em pleno funcionamento gerará 22,5 Gigawatts de eletricidade, a maior potência do mundo.  Reveja a seguir os principais fatos que marcaram o debate sobre a hidrelétrica em 2007:

Dezembro: Oficial chinês defende projeto de represa das Três Gargantas
Oficiais chineses, em inspeção à represa, defenderam o aspecto ambiental do projeto e afirmaram que a pressão provocada pelo aumento no volume de água do reservatório da represa não deve ser responsabilizada por nenhum incidente geológico ou desastre de grande porte na região. Durante dias, o projeto foi alvo de crescentes investigações na medida em que cientistas, e até mesmo representantes do governo, demonstraram publicamente preocupações com os problemas ambientais atribuídos à represa. Ao mesmo tempo, diversos agricultores residentes na região das Três Gargantas dizem que a quantidade de deslizamentos está aumentando à medida que a água sobe aos poucos no reservatório que supre a represa.

Novembro: China volta a minimizar risco de deslizamento em represa
Em entrevista coletiva, autoridades da China responsáveis pela represa Três Gargantas disseram que nos últimos anos foram destinados 12 bilhões de yuans (1,6 bilhão de dólares) para "reparos geológicos" e que haverá mais medidas preventivas quando a água tomar conta do lugar. Mas, conforme especialistas, a hidrelétrica apresenta altos índices de contaminação de água e de deslizamento de terra.
A represa também já provocou o deslocamento de cerca de 1,4 milhão de pessoas, muitas delas agricultores pobres de áreas acidentadas de Hubei (centro da China) e do vizinho município de Chongqing. No início do mês, um ônibus foi esmagado por um deslizamento de terra em Badong, na província de Hubei, perto de um afluente da represa, matando 31 pessoas. Um operário de uma ferrovia próxima também foi morto. Alguns moradores foram, inclusive, orientados a se mudar de suas residências. Diante dos sérios problemas, o governo do país anunciou sete novos planos para tentar conter os prejuízos provocados por Três Gargantas.


Outubro: Hidrelétrica apresenta falhas e provoca reassentamento na China
Uma série de problemas ambientais gerados pela represa de Três Gargantas causou, mais uma vez, inundações nas regiões próximas à represa e o governo chinês precisou recolocar mais de um milhão de pessoas. Previsões menos otimistas mostram que nos próximos 10 a 15 anos, a China vai realocar ao menos outros 4 milhões de pessoas da área da barragem de Três Gargantas, a fim de proteger a "segurança ecológica" da região.  

Setembro: Pequim admite publicamente “perigos ocultos” no projeto
Quebrando uma tradição propagandista de ressaltar as virtudes da represa, a qual gosta de apresentar como um dos símbolos de seu crescimento, Wang Xiaofeng, responsável do projeto de Três Gargantas no Conselho de Estado Chinês (Executivo) admitiu publicamente que havia “perigos ocultos” no projeto. Os opositores ficaram assombrados pelo fato do país reconhecer de maneira surpreendente as falhas da represa. Até os funcionários que antes viam no projeto um prodígio de engenharia e uma dádiva ecológica agora admitem que as áreas próximas à barragem estão pagando um preço ambiental pesado, potencialmente calamitoso.
Enquato isso, Wang Hongju, prefeito de Chongqing, localidade perto da gigantesca represa, desmentiu a advertência do responsável pela hidrelétrica no Executivo chinês sobre o impacto ambiental do projeto. Segundo o prefeito, o entorno de Chongqing é excelente, a água do rio Yang Tsé que passa pela urbe é potável e sua qualidade é a melhor entre as cidades chinesas hoje em dia.
Embora os desmentidos, o próprio governo de Chongqing, na região da reserva, apresentou um projeto para a recolocação em massa de 1,17 milhão de pessoas da área da represa. Os planos de reassentamento, revelados pelo jornal 21st Century Economic Herald, exigem a redução da população da reserva para salvaguardar ecologicamente a área da represa e criar uma importante barreira ecológica dentro da bacia do rio Yang Tsé. A recolocação, que os líderes locais querem completar até 2020, situará o número total de reassentados pelo projeto Três Gargantas em 2,3 milhões.
 
Agosto: China tenta salvar reserva de água doce da poluição
Grupos ambientalistas divulgam queixas sobre a má qualidade dos recursos hídricos ao longo do rio Yang Tse. As principais causas da queda da qualidade da água são a excessiva atividade humana na região e o mau tratamento dos desfeitos, além das obras da represa das Três Gargantas, que diminuíram o nível de água.

Julho: China vai construir mais 12 usinas hidrelétricas no rio Yang Tsé
Não bastasse os passivos provocados pela hidrelétrica de Três Gargantas, agora a China anuncia que construirá 12 novas centrais, com capacidade instalada de 90,2 milhões de quilowatts, no rio Yang Tsé, o mais longo do país, durante os próximos 20 anos. A capacidade combinada das novas centrais será quase "cinco vezes" maior que a de Três Gargantas, a maior represa do país, no curso médio do Yang Tsé e uma das maiores do planeta.

Maio: Três Gargantas vira pesadelo ecológico
A maior represa do mundo está parcialmente finalizada. Os números deste empreendimento são gigantescos. Só os camponeses desapropriados e removidos da região inundada até o momento são 1,3 milhão. Foram 100 operários mortos durante a épica construção e 200 mil metros cúbicos de águas residuais serão acumuladas no reservatório.

Abril: Trecho de 600 km do rio Yang Tsé está altamente poluído, diz estudo
A poluição do rio Yang Tsécontinua aumentando, e 600 quilômetros de seu curso fluvial estão em estado "crítico", de acordo com estudo governamental sobre suas condições ambientais. Segundo o documento, elaborado pela Academia Chinesa de Ciências, a Comissão de Recursos do Yang Tsé, o Ministério de Recursos Hidráulicos e a organização ambientalista WWF, o rio recebe a cada ano 14.200 toneladas de água poluída, o que equivale a 42% do total desaguado em todo o país. Pesticidas, adubos e vazamentos dos navios de passageiros aparecem entre os principais poluentes, especialmente na zona da represa das Três Gargantas. Isso está tendo graves conseqüências ambientais, como a extinção de espécies aquáticas, e econômicas, já que atualmente a pesca é quatro vezes menor que há 50 anos. O estudo assinala também que 30% dos afluentes do Yang Tsé estão "gravemente poluídos", entre eles grandes correntes como o Min, o Tuo, o Xiang e o Huangpu, que passa pela cidade de Xangai.
O relatório também fala de um possível aumento no futuro dos riscos de desastres naturais por enchentes do rio, que atualmente já é responsável por mais de 70% das inundações que o país sofre a cada ano. Embora a represa das Três Gargantas tenha diminuído os riscos de inundação no curso médio do Yang Tsé, o perigo continua no curso baixo.

Março: Maior lago de água salgada da China luta para não secar
O maior lago de água salgada da China, o Ebinur, ameaça seguir os passos de milhares de lagos chineses que secaram desde 1950. Além das fábricas de celulose, o volume diminuiu devido à incessante construção de represas na parte mais alta do curso do rio Yang Tsé e de seus afluentes, o que também intensifica a concentração de substâncias poluentes. Segundo o último relatório do grupo de defesa do meio ambiente WWF, o Yang Tsé é um dos dez maiores rios do mundo que "estão agonizando" como resultado da mudança climática, da poluição e das represas, o que multiplica as ameaças de escassez de água no mundo.

(Organização Tatiana Feldens, Ambiente JA, 28/12/2007)

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