Tradição no cultivo da soja está entre os motivosTerá origem no Rio Grande do Sul a maior parte do biodiesel que começa a ser adicionado de forma obrigatória, na proporção de 2%, a partir de 1º de janeiro. Com o maior volume vendido nos leilões realizados pelo governo federal para garantir os estoques do primeiro semestre de 2008, as usinas gaúchas garantiram a liderança da nova etapa da evolução do país rumo aos combustíveis renováveis.
- O Rio Grande do Sul será o maior produtor porque vendeu 20% de todo o biodiesel negociado nos leilões feitos para abastecer o mercado do novo combustível no primeiro semestre de 2008 - explica Arnoldo de Campos, coordenador do Programa de Biodiesel pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário.
Entre os motivos da liderança gaúcha, estão a tradição no cultivo da soja, que hoje representa a maior parte da matéria-prima do biodiesel, e a predominância da agricultura familiar, condição para concessão do selo social. Outro aspecto importante é a preparação das quatro grandes usinas de biodiesel instaladas no Estado para transformar capacidade instalada em produção efetiva, avalia Campos. Somadas, as indústrias do Rio Grande do Sul teriam capacidade para atender a quase metade do abastecimento nacional previsto para 2008, de 840 milhões de litros. Juntas, têm potencial de produção de 400 milhões de litros.
Considerado um dos grandes testes para a adoção do biodiesel no Brasil, a transformação de capacidade instalada em produção efetiva deve ditar a rapidez da evolução da mistura dos 2% iniciais para uma proporção maior. Ontem, o ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner, avisou que ainda em 2008 o governo pensa em elevar o percentual para 3% de forma autorizativa, isto é, não obrigatória. Esse acréscimo já tem a chancela da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores. A medida está em análise porque existe capacidade para 2,5 bilhões de litros - três vezes mais do que o necessário para atender ao abastecimento da nova mistura do combustível, chamado de B2.
A proporção de 2% de biodiesel em todo o diesel vendido no país a partir do dia 1º terá "tolerância zero", segundo Edson Silva, superintendente de abastecimento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). O posto que descumprir a norma poderá ser fechado:
- A partir de zero hora do dia 1º, todo posto terá de estar vendendo o B2.
Ontem ainda havia controvérsias sobre o tipo de exigência que seria feita no varejo. É ponto pacífico que todo diesel entregue pelas distribuidoras às revendas tenha de ser B2. A 72 horas da mudança, porém, o Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes (Sindicom) ainda sustentava que os postos poderiam oferecer produto com proporção diferente de 2%, para poder consumir os estoques restantes de diesel puro.
- Desconhecemos essa orientação, acredito que houve um mal-entendido - disse ontem o vice-presidente executivo do Sindicom, Alísio Vaz.
Na avaliação do Sindicom, seria "operacionalmente impossível" substituir todos os estoques a tempo. Mas para os donos de postos a regra está clara: quem não conseguir esgotar o armazenamento de diesel puro não pode misturar com o B2, porque o produto ficaria fora de especificação.
- Tem de deixar separado, de alguma forma, e fazer uma justificativa para a ANP - recomenda o vice-presidente do Sindicato dos Revendedores de Combustíveis e Lubrificantes do Estado (Sulpetro), Adão Oliveira.
(Por Marta Sfredo,
Zero Hora, 29/12/2007)