Os debates gerados pela publicação de textos, ao final do ano, sobre a greve de fome de Dom Cappio, bispo de Barra, e a transposição do Rio São Francisco, fizeram um “fim de ano” para Carta Maior de acordo com seu comportamento e perfil em 2007, e ao longo de toda sua trajetória.
O “
especial” publicado agora em nossa página, com uma seleção de textos sobre a transposição do São Francisco e temas conexos, ilustra nossa tradição de pluralidade em questões complexas como essa, e ao mesmo tempo de rigor na informação e no debate.
Por outro lado, em 2007, Carta Maior enfrentou a maior crise de sua história, e estivemos de fato a pique de fechar. Não fechamos, continuando na luta pela democracia no jornalismo, pela justiça social, pela liberdade e pluralidade na informação. E não fechamos, sobretudo, pelo verdadeiro clamor de solidariedade e demanda de continuarmos que se levantou a partir de nossos “companheiros de caminho”, os leitores e leitoras* de Carta Maior.
Estes e estas continuaram freqüentando nossa página, até com maior assiduidade. Nosso cadastro dos que recebem o Boletim de Carta Maior aumentou, e hoje supera os 45 mil registrados. Para o fim do ano, o número dos comentários às matérias publicadas cresceu vertiginosamente, com críticas, elogios, e debates com os articulistas e entre os comentaristas.
Sem dúvida, isto reflete o caráter polêmico de temas levantados, como o do São Francisco ou o da greve de fome correlata do bispo de Barra. Mas também se deve a fenômeno crescente no jornalismo brasileiro e mundial, que é o da perda de confiança na mídia convencional e conservadora, de espírito oligárquico no caso brasileiro, ao lado da crescente busca de fontes alternativas e democráticas na informação, no comentário e no debate.
Também se deve ao potenciado interesse pela internete como espaço de navegação*, de divulgação, e de debate. Em 2006 a internet foi fundamental para a desconstrução da campanha da mídia conservadora contra a reeleição do presidente Lula. Em 2007 também ela foi fundamental na divulgação daquilo que as pautas conservadoras tentam inutilmente esconder, o Brasil que pouco a pouco – e é verdade que numa velocidade ainda lenta demais – começa a resgatar sua dívida social.
O Brasil retomou o contato com aquilo que o neo-liberalismo tentara lhe roubar: o futuro. 20 milhões de brasileiros deixaram a pobreza contumaz nos últimos anos. Isso é retomar contato com o futuro. Essa é a perspectiva com que se deve debater temas como esse da transposição do São Francisco: qual a melhor alternativa para o nosso futuro? E quando falamos de futuro, não estamos falando em 5 ou 10 anos, mas numa dimensão secular, estamos falando nas gerações futuras.
Esperamos continuar acompanhados por nossos “companheiros e companheiras de caminho”em 2008, que desejamos para todos que seja feliz e repleto de bons debates e de lutas por mais democracia e justiça em nossa sociedade.
(Por Flávio Aguiar,
Agencia Carta Maior, 21/12/2007)
*Recebi mensagens de alguns de nossos companheiros e companheiras de caminho dizendo que preferiam ser chamados de leitores e leitoras e não de internautas, como fazemos no mais das vezes. No passado, recebi também mensagens no sentido contrário, alertando que na internete seria mais preciso dizer internautas. Enfim, esperamos contentar a todos e todas, renovando a declaração de que são nossos companheiros de pauta, agenda e debate.