(29214)
(13458)
(12648)
(10503)
(9080)
(5981)
(5047)
(4348)
(4172)
(3326)
(3249)
(2790)
(2388)
(2365)
2008-01-02
Governos locais querem definir a política de terras, cobrar impostos e co-administrar, junto com o Estado nacional, os recursos naturais estratégicos como o gás. Tudo isso bate de frente com o projeto do governo de Evo Morales.

Uma análise preliminar do estatuto autonomista aprovado no dia 15 de dezembro em Santa Cruz, somado aos que foram proclamados em Beni e Pando e ao que está sendo redigido em Tarija, antecipa uma primeira conclusão: as direções regionais apostaram em uma posição "máxima", que caso venha a prosperar vai transformar a Bolívia em um país Federal ou semi-federal.

Mais do que uma cisão do país, o que faz prever novas nuvens negras são as competências que a "meia-lua" da parte sul-oriental do país tenta tirar do governo central. As Cartas departamentais - que devem ser ratificadas em um referendo sem embasamento legal, ainda que com legitimidade nas regiões - deixam claro que os governos locais querem definir a política de terras, cobrar impostos e co-administrar, junto com o Estado nacional, os recursos naturais estratégicos como o gás. Mas tudo isso bate de frente - e é inaceitável - com o projeto nacionalista que lidera Evo Morales, hegemônico no ocidente boliviano, mas com apoio importante no oriente, como revelaram as eleições de 2005 e 2006.

No terreno tributário, o estatuto de Santa Cruz outorga a um futuro órgão legislativo departamental não apenas o poder de criar novos impostos mas, também, o de arrecadar impostos para o governo nacional, em um sistema de co-participação das regiões e do Estado. Isso não é pouca coisa: Santa Cruz produz 30% do PIB e gera entre 30 e 40% da arrecadação fiscal boliviana.

Também querem ter competência, só que "partilhada com o governo nacional", na exploração do gás, o que, como antecipou o prefeito Rubén Costa, permitiria a criação de empresas departamentais de hidrocarbonetos e a assinatura de acordos próprios com as transnacionais estabelecidas na Bolívia. Apesar de que mais de 80% do gás está em Tarija, estas empresas têm sua sede em Santa Cruz.

Mas onde a direção de Santa Cruz não quer mesmo saber nada do Estado é no controle da terra, em um país no qual se mata e se morre por um punhado de metros quadrados. Adotando "medidas preventivas" diante das previsíveis críticas, o estatuto inclui um artigo sobre "perseguição e luta contra o latifúndio". Mas o vínculo dos políticos orientais com o agronegócio provoca múltiplas susceptibilidades quanto à cláusula que delega aos futuros governadores a emissão de títulos de propriedade agrários "irreversíveis", que não podem ser revisados pelo Estado nacional, assim como o controle do cumprimento da função econômica e social das propriedades rurais. E a mesma coisa acontece com a competência departamental para outorgar concessões florestais que está incluída nos estatutos. As terras mais férteis, que hoje estão divididas fundamentalmente entre o cultivo de soja e a agropecuária, encontram-se no oriente.

O diretor do Centro de Estudos Jurídicos e Pesquisas Sociais (Cejis), Leonardo Tamburini, explica que desde o auge da soja, nos anos 1990, ocorreu um processo de forte estrangeirização da propriedade rural. "Em 2004, 30% da superfície cultivada com soja estava em mãos de brasileiros e outra parte importante se divide entre menonitas, israelenses, russos e argentinos", aponta o especialista. Para complicar ainda mais as coisas, a Assembléia Constituinte decidiu promover uma consulta para definir se o limite dos latifúndios será de 5.000 ou de 10.000 hectares, o que muitos especialistas consideram inviável, argumentando que não é possível fixar extensões máximas sem levar em conta a produtividade de cada região, e uma fonte adicional de conflitos.

Para os grupos agroempresariais a leitura é simples: Evo quer sucatear o país para beneficiar sua gente, ou seja, os camponeses e indígenas do ocidente boliviano. A dúvida é se essa postura cívico-municipal radical vai ser uma carta de negociação com o governo central (ou seja, pedir tudo para conseguir alguma coisa) ou se será uma postura extrema que vai provocar maiores estranhamentos num futuro imediato. É isso que irá determinar os caminhos possíveis para sair do
"empate".

(Por Pablo Stefanoni, Agencia Carta Maior, 26/12/2007)
Tradução: Naila Freitas / Verso Tradutores

desmatamento da amazônia (2116) emissões de gases-estufa (1872) emissões de co2 (1815) impactos mudança climática (1528) chuvas e inundações (1498) biocombustíveis (1416) direitos indígenas (1373) amazônia (1365) terras indígenas (1245) código florestal (1033) transgênicos (911) petrobras (908) desmatamento (906) cop/unfccc (891) etanol (891) hidrelétrica de belo monte (884) sustentabilidade (863) plano climático (836) mst (801) indústria do cigarro (752) extinção de espécies (740) hidrelétricas do rio madeira (727) celulose e papel (725) seca e estiagem (724) vazamento de petróleo (684) raposa serra do sol (683) gestão dos recursos hídricos (678) aracruz/vcp/fibria (678) silvicultura (675) impactos de hidrelétricas (673) gestão de resíduos (673) contaminação com agrotóxicos (627) educação e sustentabilidade (594) abastecimento de água (593) geração de energia (567) cvrd (563) tratamento de esgoto (561) passivos da mineração (555) política ambiental brasil (552) assentamentos reforma agrária (552) trabalho escravo (549) mata atlântica (537) biodiesel (527) conservação da biodiversidade (525) dengue (513) reservas brasileiras de petróleo (512) regularização fundiária (511) rio dos sinos (487) PAC (487) política ambiental dos eua (475) influenza gripe (472) incêndios florestais (471) plano diretor de porto alegre (466) conflito fundiário (452) cana-de-açúcar (451) agricultura familiar (447) transposição do são francisco (445) mercado de carbono (441) amianto (440) projeto orla do guaíba (436) sustentabilidade e capitalismo (429) eucalipto no pampa (427) emissões veiculares (422) zoneamento silvicultura (419) crueldade com animais (415) protocolo de kyoto (412) saúde pública (410) fontes alternativas (406) terremotos (406) agrotóxicos (398) demarcação de terras (394) segurança alimentar (388) exploração de petróleo (388) pesca industrial (388) danos ambientais (381) adaptação à mudança climática (379) passivos dos biocombustíveis (378) sacolas e embalagens plásticas (368) passivos de hidrelétricas (359) eucalipto (359)
- AmbienteJá desde 2001 -