Atualmente, o Paquistão é o país mais explosivo, o que traz mais risco para a comunidade internacional. A opinião é de Reginaldo Nasser, coordenador do curso de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e especialista em Segurança Internacional e Oriente Médio.
Nasser afirma que o problema do Paquistão vai muito além do atentado contra a ex-primeira-minsitra Benazir Bhutto, ou os outros que ocorreram recentemente contra autoridades. E destaca a “presença muito forte de grupos terroristas ligados à Al Qaeda no governo e na sociedade, e num país que tem armas nucleares”.
O “grande perigo”, avalia, é que terroristas tomem o poder do Estado e tenham armas nucleares em mãos. Nasser considera “especulações” o que se fala sobre ameaças atômicas da Coréia do Norte e do Irã, tanto pela dúvida sobre existência ou não de armas nucleares quanto pelo fato de serem “governos estabelecidos, com representação na ONU [Organização das Nações Unidas]”, que “podem ser mais ou menos ditatoriais, mas jogam o jogo da comunidade internacional”.
No caso do Paquistão, o poder poderia cair nas mãos de “grupos que não têm interesse nenhum na ONU, que atacam a ONU [cita como exemplo o assassinato do brasileiro Sérgio Vieira de Mello no Iraque]”. “Seria o primeiro caso em que um grupo terrorista deteria controle sobre armas nucleares”.
O professor cita pesquisa da revista norte-americana Foreign Policy (Política Externa) com especialistas em segurança internacional, em que 65% dos entrevistados elegeram o Paquistão como “o lugar mais ameaçador do mundo para os EUA e a ordem mundial”. Ele menciona também um artigo do democrata Barack Obama, candidato à Presidência dos Estados Unidos, que disse “com todas as letras que o lugar mais ameaçador é o Paquistão”.
Indagado sobre a real possibilidade de terroristas tomarem o poder, tendo em vista que os Estados Unidos poderiam acionar sua máquina militar, Nasser cita como exemplo a intervenção no Afeganistão após os atentados de 11 de setembro de 2001. E lembra que, na ocasião, os EUA agiram “com tudo”, e que o Afeganistão é “bem mais miserável” que o Paquistão: lá os problemas não acabaram até agora.
“As armas, os grupos de resistência do Afeganistão são bem inferiores aos do Paquistão”, afirma o especialista. Ele explica que em função do conflito com a Índia, o Paquistão aprimorou suas forças militares, seu arsenal.
(Por Julio Cruz Neto, Agência Brasil, 29/12/2007)