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mata atlântica
2007-12-28
Recursos têm origem em cobrança pelo uso da água

Em agosto desse ano, a cidadezinha de Extrema, no sul de Minas Gerais, ganhou o primeiro programa municipal de pagamentos por serviços ecológicos do país. O dinheiro pago desde 2006 pelos usuários da água tirada das bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ) passa a financiar, entre outras coisas, a recomposição de reservas legais e áreas de proteção permanente (APPs) em propriedades rurais. Por trás da iniciativa está, além da veterana ONG The Nature Conservancy, uma jovem organização mineira que nasceu com um propósito muito específico: trabalhar intensivamente em uma única área. A princípio, na parte da Serra da Mantiqueira que cabe ao seu estado, onde estimula a idéia de formação de um corredor ecológico.

A Valor Natural surgiu em 2004 por iniciativa de oito biólogas que já tinham experiências dispersas no movimento ambiental. Como explica a diretora Cláudia Costa, a intenção das fundadoras era encontrar uma forma de focar numa região trabalhos de conservação da natureza. “Em geral as ações são muito fragmentadas. Nós pensamos: será que fazendo isso conseguiríamos ver a conservação acontecer de fato?”, diz ela. Veio então a idéia da ONG, que facilitaria exercer o trabalho, cujo pilar se tornou justamente articular politicamente a conservação entre os atores sociais da Serra da Mantiqueira, concentrando-se ali por 10 anos.

A louvável intenção é fruto de conversas entre oito mulheres que se conheceram ao longo dos estudos em biologia. Mas uma olhadinha na equipe da ONG em seu site revela que não só as oito fundadoras têm nomes femininos. Também a administração, a contabilidade, a assessoria de imprensa e a coordenação do trabalho de campo são realizadas por mulheres. “Agora tem um rapaz que está substituindo uma das meninas, que saiu de licença maternidade”, diz Gisela Herrmann, outra fundadora e diretora da Valor Natural. “Mas é o único”, completa.

Plano

O Programa Conservador de Águas de Extrema beneficiará 100 propriedades rurais em sua primeira etapa, recuperando um total de 1,2 mil hectares de área. Até agora, foram assinados 15 convênios com proprietários, o que representará 350 hectares de floresta replantada. O trabalho da Valor Natural incluiu a negociação tanto com o Comitê da Bacia PCJ como com a prefeitura e os proprietários para o estabelecimento do programa. “As políticas públicas, em nível federal, estadual e municipal são desarticuladas”, diz Gisela. Até o programa começar a ser implantado, o comitê da Bacia do PCJ tinha o recurso, mas não o utilizava. Com a orientação da ONG, quem atua na gestão é a própria prefeitura de Extrema.

Nos meses de agosto e setembro agora, a instituição também organizou oficinas para os conselhos consultivos das unidades de conservação mineiras na Serra da Mantiqueira. O objetivo era fortalecer a atuação dos conselhos, apresentando aos conselheiros formas de planejamento e gestão das unidades. Esses são apenas dois exemplos de atuação da ONG, que também estimula a formação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) e a criação de novas unidades de conservação (e reforço das existentes), entre outras coisas.

No seu primeiro ano de vida, a equipe se dedicou a coletar dados sobre a região, fazendo um diagnóstico socioeconômico e identificando estudos prévios sobre a biodiversidade na área. Também foram feitos planos, discutidos durante dois meses de 2006 com 120 representantes de instituições públicas e privadas, para a formulação de um Plano de Ação do Corredor Ecológico da Mantiqueira, com diretrizes e linha de ação para implantação do corredor na área.

Fragmentação

No plano consta que na Serra da Mantiqueira (que também abarca, além de Minas, os estados do Rio de Janeiro e São Paulo) estão localizadas mais da metade das espécies ameaçadas da fauna de Minas Gerais, “com um endemismo expressivo de espécies de anfíbios e plantas”. Ali estão 20% dos remanescentes da Mata Atlântica mineira, protegidos por apenas três unidades de conservação de proteção integral (o Parque Nacional do Itatiaia e os parques estaduais da Serra do Papagaio e do Ibitipoca). Juntas elas protegem só 0,49% dos 11 mil quilômetros quadrados que compõem o Corredor Ecológico.

A vegetação na região é muito fragmentada e o estímulo a recompor florestas em pequenas propriedades pode ajudar a conectar esses pedaços de mata. A maioria das propriedades rurais não tem reservas legais. Além disso, devido ao relevo acidentado, a maior parte da área é de proteção permanente, mas não tem floresta. E é ali que se cria gado leiteiro, a principal atividade da região. Atualmente, diz Gisela, a criação é extremamente impactante. “O custo ambiental é enorme. Se ele fosse levado em conta, seria o leite mais caro do mundo”, diz.

Uma cartilha que explica como planejar as propriedades foi produzida pela ONG e é usada para estimular técnicas possibilitem a produção numa área menor, aumentando a produtividade e diminuindo a degradação do solo. Segundo a bióloga, a intenção é descobrir formas de transformar a conservação numa atividade rentável. “Só com isso a conservação a longo prazo será viável”, diz ela. É aí que entra o pagamento pelos serviços ambientais que, por exemplo, os pecuaristas de Extrema prestam ao manter suas APPs de pé.

Coincidência

Cláudia e Gisela garantem que a (quase) exclusividade feminina não passa de mera coincidência. “Não foi intencional. Acabou sendo assim naturalmente”, diz Cláudia. “Quando é uma instituição só de homens, ninguém pergunta o porquê”, atira Gisela. Mas como ela mesma lembra, o fato não deixa de apontar uma tendência no movimento ambiental. “Até pouco tempo, havia muitas mulheres nos cargos técnicos, mas nenhuma no topo”, afirma. Isso começou a mudar de uns tempos para cá, e cada vez mais mulheres assumem cargos de liderança em ONGs ambientalistas.

Para Cláudia, o fato de serem só mulheres na equipe tem criado facilidades para o trabalho no campo, por exemplo, na aproximação com proprietários rurais. “Facilita a negociação, a empatia é maior”, diz ela. Gisela concorda. “Gera uma admiração, que melhora o acesso”, diz. “Nós ficamos conhecidas como ‘as meninas da Valor Natural’”.

(Eric Macedo, O Eco, 28/12/2007)

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