Em 2007
empresários, políticos e ambientalistas parecem ter despertado de vez para o problema das sacolas plásticas distribuídas gratuitamente em estabelecimentos comerciais do mundo. Mas se em países como Inglaterra
as discussões apontam para a redução do uso, ou reutilização, no Brasil iniciativas indicam para uma política de substituição das sacolas de termoplástico (convencional), por sacolas de plástico degradável. E essa é a polêmica que se anuncia em 2008 para o setor.
Entre as soluções que se apresentam está o plástico oxibiodegradável, feito à base de amido de batata e que já vem sendo produzido por algumas empresas. “Quem tem a preocupação ecológica compra um produto que pode ser colocado diretamente na natureza e vai se decompor em 18 ou 20 semanas, dependendo da espessura do produto. Diferentemente do plástico normal, que leva 200 anos”, defende Cristina Zatti, diretora de desenvolvimento de produtos da Coza, indústria gaúcha de cestas plásticas de material biodegradável.
Ela pondera que para algumas aplicações o plástico convencional continua sendo a melhor solução, pois é facilmente identificado e reciclável. “Não é que o plástico normal polua o meio ambiente, ele só não pode ser diretamente jogado na natureza e, para algumas aplicações, continua sendo bom. Já para o saquinho de supermercado o bioplástico seria realmente ótimo, seria sem dúvida a solução para o meio ambiente”, aposta Cristina.
Apoiados por políticos de todo o país, os fabricantes do material pretendem expandir sua demanda através de leis e normas que promovam a substituição das sacolas de plástico convencional. É o exemplo do
projeto de lei em análise na Câmara de Vereadores de Porto Alegre. O PL proposto pela vereadora Maristella Maffei (PC do B) prevê a substituição dos saquinhos de termoplàstico hoje distribuidos em estabelecimentos comerciais, por sacolas de material biodegradável ou reutilizável. Entre elas as embalagens plásticas oxiobiodegradáveis.
Mas se do ponto de vista político a questão parece bem encaminhada, os fatores técnicos da proposta ainda carecem de um bom debate. Para a diretora-presidente da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam/RS), Ana Maria Pellini, o assunto deve ser tratado sob o prisma da responsabilidade ambiental das empresas. Em reunião na primeira quinzena de Dezembro, integrantes do grupo de trabalho criado no final de novembro pela Sema/RS decidiram encaminhar para a vereadora um documento solicitando reavaliação da proposta que visa a adoção de embalagens plásticas oxiobiodegradáveis nos estabelecimentos comerciais de Porto Alegre.
A Fepam elaborou um parecer sobre os plásticos oxiobiodegradáveis, baseado em estudo elaborado pela CETESB, órgão do governo paulista, segundo o qual “não é possível prever o comportamento do material oxibiodegradável exposto ao meio ambiente natural". "Não é possível afiançar que o polímero oxibiodegradável seja reincorporado ao meio ambiente no tempo afirmado pelos fabricantes, ou mesmo que será realmente biodegradado. Existe um limitante sério, em termos ambientais, que é a impossibilidade desse tipo de material de ser compostado”, explicou a presidente da Fundação.
O Instituto Sócio-Ambiental do Plástico, Plastivida, é contra a utilização de plásticos oxibiodegradáveis. “Essas sacolas utilizam aditivos para que o plástico se torne oxibiodegradável. Entretanto, ao se degradar, os plásticos não desaparecem na natureza e sim se fragmentam podendo causar riscos ambientais muito mais sérios, como a contaminação em rios e subsolos. Para que aconteça a biodegradação é necessária a presença de fatores tais como oxigênio, luz, umidade, temperatura, manejo contínuo, entre outros. Portanto, afirmar que qualquer produto pelo simples fato de ser biodegradável se biodegradará em qualquer condição, até mesmo ao ar livre, é uma afirmação incorreta”, explica o presidente do Plastivida, Francisco Assis Esmeraldo.
Para Esmeraldo, além de gerar uma “poluição invisível”, a imposição de sacolas oxibiodegradáveis significa desperdiçar um material que poderia voltar para produção e gerar energia. “Plástico é petróleo e, portanto, tem alto teor energético, comparável ao óleo diesel, e num momento em que o mundo carece de novas fontes de energia é um contra-senso fazer ‘desaparecer’ uma sacola plástica”, argumenta ele. "A questão do plástico dito biodegradável certamente desencadearia uma ação de deseducação, uma vez que induziria a população a descartar o lixo em qualquer lugar, sem qualquer cuidado, agravando o problema da poluição”, completa. Para a Plastivida, a melhor solução para a preservação do meio ambiente é a coleta seletiva e reciclagem.
Entenda os conceitos:- Plásticos Oxidegradáveis - A degradação resulta da oxidação, que pode ou não chegar até a biodegradação. A degradação é química, e não biológica. Este tipo de degradação é denominado Oxo-degradação.
- Plásticos Biodegradáveis - A degradação é causada por atividade biológica de ocorrência natural, por ação de enzimas. São os microorganismos decompositores, como bactérias, protozoários e fungos que degradam este plástico. Este tipo de degradação é denominado Biodegradação e pode acontecer de duas formas. Biodegradável é todo material que após o seu uso pode ser decomposto pelos microorganismos usuais no meio ambiente. Desta forma o material quando se decompõe, perde as suas propriedades químicas nocivas em contato com o meio ambiente.
- Plásticos Oxibiodegradáveis - A degradação é química e biológica. A oxibiodegradação de um plástico é um processo em dois estágios: o plástico é convertido pela reação com o oxigênio (combustão) em fragmentos moleculares que são passíveis de serem umedecidos por água, e essas moléculas oxidadas são biodegradadas (convertidas em dióxido de carbono, água e biomassa por microorganismos).
(Reportagem de Luiza Oliveira Barbosa, Ambiente JÁ, 19/12/2007)