Sucessivas greves de agentes contribuíram para aumento da incidência Os agentes de combate às endemias voltaram ontem ao trabalho, após 16 dias em greve. Mais uma vez com atraso, a prefeitura depositou os salários referentes ao mês de novembro. As sucessivas paralisações dos funcionários durante o ano colaboraram para que os casos de dengue subissem 154,5% em Salvador. Os números são da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab). De 1º de janeiro a 12 de dezembro de 2007 foram registrados 1.751 ocorrências da doença na capital baiana; em todo 2006, foram 688.
Na Bahia, foram notificados 11.723 casos da dengue até data acima mencionada contra 10.228 no ano passado: quase 15% a mais. Quatro pessoas morreram _ três em Salvador e uma na cidade de Luís Eduardo Magalhães, oeste do estado, distante 930km da capital.
Responsáveis pelas execuções de ações de controle às doenças endêmicas, a exemplo da dengue, raiva e leptospirose, os agentes paralisaram diversas vezes em 2007 por conta de falta de reajuste e vencimentos atrasados. Em agosto, expirou o contrato entre a prefeitura e a Real Sociedad Espanhola, que terceirizava o serviço. Num acordo mediado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), o município se comprometeu a arcar com as despesas dos vencimentos dos profissionais, enquanto não os contrata através de seleção pública.
Desde o dia 10, cerca de 1,7 mil agentes estavam de braços cruzados. Com o salários depositados nas contas bancárias, eles voltaram parcialmente ao trabalho. “Nós ficamos preocupados porque toda população é prejudicada quando nós não fazemos as visitas de rotina às casas. Mas nenhum profissional pode trabalhar sem receber”, diz o coordenador do Sindicato dos Agentes Comunitários de Saúde e Contendores de Doenças Endêmicas e Epidemiológicas do Estado da Bahia (Sindacs), Edvaldo Leite Santana.
Ele considera que, com a chegada do Verão e das festas populares, a exemplo do Carnaval, a tendência é que haja um novo surto da enfermidade na capital. “Os agentes não atuam nas melhores condições de trabalho, falta fardamento e equipamentos de proteção. E se o salário atrasar de novo no mês que vem? A categoria, com certeza, vai fazer nova paralisação”.
População não colaboraA subcoordenadora do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) da Secretaria Municipal de Saúde, Josélia Sande, afirma que mais de 80% dos casos da dengue em Salvador foram registrados no período entre março e julho, quando houve um surto de doença na cidade. Ela admite que a paralisação dos agente prejudica o combate contra a proliferação da doença, mas o avanço também se deve à falta de hábitos de prevenção da população. “Nós temos que nos conscientizar que o problema da dengue não é apenas da Secretaria Municipal de Saúde, é de toda a sociedade”.
Ela afirma que a maioria dos focos do mosquito da dengue Aedes aegypti está nas residências e em prédios domiciliares. A partir de janeiro, Sande informa que o combate vai ser intensificado no litoral da cidade, nos pontos turísticos e no circuito do Carnaval. “A vigilância será mais intensa nestes pontos da cidade, assim como nos locais onde a notificação da doença é alta. Mas as visitas de rotina dos agentes nos outros bairros serão mantidas”.
PrevençãoEvitar água paradaEsvaziar e escovar as paredes internas de recipientes que acumulam água
Manter totalmente fechadas cisternas, caixas d’água e reservatórios provisórios tais como tambores e barris
Furar pneus e guardá-los em locais protegidos das chuvas
Guardar latas e garrafas emborcadas para não reter água
Limpar periodicamente, calhas de telhados, marquises e rebaixos de banheiros e cozinhas, não permitindo o acúmulo de água
Jogar quinzenalmente desinfetante nos ralos externos das edificações e nos internos pouco utilizados
Drenar terrenos onde ocorra formação de poças
Não acumular latas, pneus e garrafas
Encher com areia ou pó de pedra poços desativados ou depressões de terreno
Manter fossas sépticas em perfeito estado de conservação e funcionamento
Manter permanentemente secos, subsolos e garagens
Não cultivar plantas aquáticas
(Flávio Costa,
Correio da Bahia, 27/12/2007)