Os países em desenvolvimento devem perder 9% da capacidade de produção agrícola até 2080 se as mudanças climáticas não forem controladas, estima o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) 2007/2008, do PNUD, a partir de diversas projeções sobre a evolução do clima do planeta.
Um estudo citado no texto aponta que a América Latina está entre as regiões em que a agricultura mais sofrerá: o potencial produtivo deve cair 13%, proporção só menor que a da África (17%), maior que a da Ásia (9%) e do Oriente Médio (9%). Nos países desenvolvidos, a tendência é oposta: deve haver crescimento de 8%. Esses efeitos significam que serão mais atingidos os países mais pobres e, neles, as pessoas mais pobres.
A produção agrícola será afetada pela elevação das temperaturas das áreas tropicais e subtropicais, que incluem a maioria dos países em desenvolvimento, como o Brasil. Previsões do IPCC (sigla em inglês para Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas) mencionadas no relatório apontam que o aquecimento global provocará chuvas irregulares, desertificação, derretimento de geleiras e períodos mais longos de estiagem em rios e lagos. “Em muitas regiões marcadas pela escassez hídrica, prevê-se que as alterações climáticas reduzam bastante a disponibilidade da água em razão do aumento das secas”, afirma o estudo.
Os impactos na capacidade produtiva vão aumentar a pobreza, diminuir a oferta de alimentos e elevar a subnutrição no mundo. Se a tendência de elevação das temperaturas não for alterada, de acordo com o relatório, o número de subnutridos deverá ter um acréscimo de 600 milhões - saltará dos 1,1 bilhão atual para 1,7 bilhão até 2080, mais do que a população atual da China (1,3 bilhão), dos Estados Unidos (299 milhões) e do Brasil (186,8 milhões) somadas.
Intitulado “Combater a mudança do clima: solidariedade humana em um mundo dividido”, o relatório do PNUD observa que quase metade dos empregos nos países em desenvolvimento está na agricultura. “A produção agrícola sustenta muitas economias nacionais. O setor é responsável por mais de um terço das receitas de exportação em cerca de 50 países em desenvolvimento”, diz o documento.
Embora a agricultura responda por uma parcela pequena do PIB (Produto Interno Bruto) da América Latina e do Caribe (7%), "permanece como fonte de subsistência para uma grande parte dos pobres (da região)", segundo o relatório. O acesso limitado à irrigação e o fato de o milho, uma cultura particularmente vulnerável ao aquecimento global, ser bastante usado na produção de subsistência agravam o quadro. O RDH prevê uma queda de 10% na capacidade de produção de milho na América Latina até 2055; no Brasil, o recuo deve ser ainda maior: 25%.
Os impactos mais devastadores devem ser sentidos nas partes áridas, como a África Subsaariana, justamente a que abriga as piores condições de desenvolvimento do planeta. A região pode ter um prejuízo de US$ 26 bilhões no setor agrícola até 2060, se a temperatura subir 2,9 °C e houver queda de 4% nas chuvas no mesmo período. O valor estimado do prejuízo supera a ajuda bilateral à região em 2005, de acordo com o relatório.
As perdas na agricultura tendem não só a aumentar a fome, mas também a agravar as desigualdades internas dos países mais pobres. Cerca de 75% das pessoas que vivem com menos de US$ 1 por dia residem em áreas rurais e dependem da agricultura para sobreviver, observa o estudo.
Nos países ricos, a produção agrícola deve aumentar devido aos ciclos mais longos de crescimento das culturas e ao aumento das precipitações em latitudes elevadas, como áreas de clima temperado. Este efeito pode aumentar a dependência econômica dos países em desenvolvimento com relação aos mais desenvolvidos. "São os pobres que sofrerão as piores conseqüências e que terão que enfrentar a crise (climática) com os escassos recursos que possuem", resume o relatório.
(PrimaPagina/ PNUD,
Ambiente Brasil, 27/12/2007)