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caça de baleias
2007-12-26

Faz dez dias que nosso navio, o Steve Irwin, partiu de Melbourne, Austrália. Seis desses dias foram tomados pelos rugidos dos ventos furiosos destas latitudes do Oceano Antártico. Nos últimos quatro dias estivemos procurando em uma distante e vasta área de mar congelado, uma frota de assassinos impiedosos - os baleeiros japoneses.  

Os baleeiros estão por aqui, tendo chegado nos últimos dias, em algum lugar deste litoral que continua por milhares de quilômetros. Nosso desafio mais difícil em todos os anos desta campanha para defender as baleias é sempre achar os enganosos assassinos de baleias. Eles, covardemente, rastejam e se movimentam por entre a névoa e a neve, no meio desta imensidão silenciosa e branca, sedentos em extinguir a vida de umas das criaturas mais inteligentes e gentis deste planeta.

Tão hostil quanto esta parte da Terra é, me apaixonei pelo Grande Oceano Antártico e este continente solitário no fundo do globo terrestre. Sou um ser humilde diante desta imensidão glacial. Todos os dias atravessamos esse mares onde tudo é remexido e icebergs são empurrados pelos ventos ferozes, sobre  um mar escuro e frígido, abaixo de um sol que nunca se põe.

Nosso navio é como uma astronave. Fora do nosso navio a morte é certa. Esta pequena embarcação é nossa única chance de vida, e é tão pequena comparada às montanhas de gelo e as pedras negras e frias do litoral.

Somos quarenta e uma pessoas abordo, cada com uma tarefa para manter o navio e o funcionamento da campanha. Ao contrário dos baleeiros, minha tripulação não está aqui por causa de salários ou benefícios. Eles estão aqui como voluntários, pois se preocupam com a sobrevivência e o bem-estar das baleias e também porque querem fazer mais do que escrever cartas ou protestar. Eles querem fazer uma diferença fisicamente. Eles querem parar a matança ilegal de baleias.   

Esta é minha quarta campanha no Santuário das Baleias na Antártica. Este será o quarto ano em que sou apresentado a um novo ano nestas encantadas águas hostis, entre as baleias, os pingüins, os albatrozes e as focas.

Em algum lugar lá fora, neste vasto oceano, os assassinos estão armando seus canhões mortais lançadores de arpões, e o convés de seus navios estão cobertos por um cheiro horrível, fluindo com sangue quente que produz nuvens de vapor no ar frio. Os corpos de nossos amigos, as baleias, estão sendo mutilados sistematicamente, as obscenas facas de “flensing” cortam rabos e barbatanas e derramam as entranhas destes seres magníficos sobre um convés gordurento.

Os baleeiros japoneses não imaginam como suas ações são repulsivas para nós a  bordo do Steve Irwin. O mundo não toleraria a perseguição de elefantes com lanças e armas para serem congelados como bifes e enviados ao Japão, contudo, por alguma razão, os governos não estão agindo para parar com a continuação da indústria mais selvagem do planeta.

Estas máquinas mortíferas de aço, que caçam as baleias sem clemência, atirando arpões dotados de granadas contra seus corpos, que explodem e rasgam seus órgãos internos, causando dores agonizantes e que forçam seus cérebros a liberarem adrenalina para lhes dar força para tentar escapar de mais um outro arpão nas suas costas e, às vezes, até mesmo de um terceiro; e além de tudo, ainda pode se levar mais que trinta minutos para morrerem, enquanto elas se contorcem dolorosamente e são rebocadas por cabos e manivelas, aos gritos. No imperdoável mar e ar gelado, seus gritos são apenas ouvidos por homens com corações tão negros que nem ao menos esboçam qualquer expressão em seus rostos - homens sem compaixão, sem empatia e sem consciência.

Ainda estes mesmos homens nos chamam – nós, que buscamos proteger a vida, de “eco-terroristas" e têm a audácia de nos acusar de violência enquanto eles enchem o mar frio com o sangue quente das baleias. É um show de horrores que fala sobre a alienação do homem em relação ao mundo animal, esta que permite a morte imparcial de seres magníficos por insignificantes homens-macacos cuja realidade revolve ao redor da satisfação material.

E o maior absurdo de tudo isso é, em um mundo de sete bilhões de seres humanos, há só 41 de nós aqui, tentando proteger estas baleias, e só alguns mil filiados em terra que apoiam nossos esforços. A maioria dos governos cuja responsabilidade é apoiar leis de conservação internacional estão calados e os poucos que falam alguma coisa não apóiam suas posições com ação. É tudo uma questão de imagem, pseudo-sinceridade e, depois de vinte anos de diplomacia falha o Japão fez nada mais que aumentar a escala do massacre, ano após ano.  

E, em algum lugar além de nossa proa, estes monstros assassinos de baleias estão fazendo seu trabalho sujo e sangrento e nós temos que achá-los. Por que a cada dia que nós procuramos e não achamos os navios destes bandidos, baleias morrem em horrorosa agonia, em piscinas de seu próprio sangue, às mãos de funcionários covardes, enviados por um dos países mais poderosos e ricos da Terra para torturar e sacrificar a mais inocente das criaturas.

Oh me perdoe, baleias que sangram, por sermos tão gentis e moderados com seus repugnantes açougueiros. Nós somos comedidos por nossa própria moralidade - nosso respeito pela vida, e isto nos impede de fazer o que poderia ser feito para silenciar os harpões efetivamente, se nós fossemos tão impediosos e desumanos quanto seus assassinos selvagens.  

Mas nós somos vigilantes não violentos, condenados como piratas violentos por estes que cometem os atos mais descarados de violência na Terra, que nos dão nomes mais apropriados a eles, e que, com seu controle financeiro da mídia e de governos compra uma fachada de "vítima", lamentando sobre interferências em suas atividades ecologicamente destrutivas.

Estes assassinos lamentam que é racismo se opor a violência deles, enquanto raça não tem absolutamente nada a ver com nossa oposição à matança de baleias. Nós lutamos contra os noruegueses com a mesma paixão e também contra os islandeses. Nós não discriminamos quando nos opomos aos que sacrificam as baleias e nós não queremos saber a cor da mão que atira o arpão, porém nós nos opomos a mão.

E há só um modo de se opor a esta pretensão comprada de "baleeiros inocentes e vítimizados": ignorando-os e sempre lembrando-os que estamos aqui pelas baleias e não pelas pessoas. As baleias são nossos clientes e é para elas que nós arriscamos nossas vidas nestas águas hostis contra um inimigo selvagem e desumano.  

Para elas, para as baleias!

(Por Capitão Paul Watson*, Eco Agência, 21/12/2007)

* Fundador e presidente da Sea Shepherd Conservation Society


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