A Unicamp realiza, pela primeira vez, a transferência de uma patente já com a sua marca registrada. Trata-se de tecnologia de reagente químico com a marca Fentox e Fentox TPH, desenvolvida na Universidade e licenciada para produção e comercialização pela Contech Produtos Biodegradáveis, empresa instalada em Valinhos, na região de Campinas. A tecnologia, desenvolvida nos laboratórios do Instituto de Química (IQ), pelo professor Wilson Jardim e pelo pesquisador Juliano de Almeida Andrade, permite a destruição de compostos tóxicos em áreas contaminadas.
A empresa já havia licenciado, em setembro último, uma patente de autoria do professor Oswaldo Alves, também do IQ. O processo desenvolvido no Laboratório de Química do Estado Sólido minimiza os efeitos dos corantes sobre o meio ambiente. “Naquela época, já começamos a analisar outras tecnologias com potencial de mercado na área ambiental para investimentos em abertura de novos mercados. Por isso, nosso interesse em tecnologias com impacto inovador”, destaca o coordenador de pesquisa do Centro de Desenvolvimento e Tecnologia da Contech, Ricardo de Lima Barreto.
A expectativa da empresa especializada em soluções para o tratamento de processos na indústria de papel e celulose é colocar a tecnologia recém-licenciada no mercado em um curto espaço de tempo. Pelo previsto em contrato, a Contech teria dois anos para produzir e comercializar os produtos. Segundo Barreto, entretanto, as equipes trabalharão no sentido de reduzir “consideravelmente” este prazo. “Temos um plano de trabalho e várias etapas até que se consiga oferecer o produto ao consumidor, mas as pesquisas que licenciamos já estão em fase avançada de testes, o que facilita bastante o processo”, avalia Barreto.
A Contech atua no país desde a década de 1990 e responde por aproximadamente 70% do mercado brasileiro no fornecimento de produtos químicos e sistemas para o tratamento de vestimentas na fabricação de papel e celulose. Atua em países da Europa e América do Sul. Segundo Ricardo de Lima Barreto, o relacionamento com a Unicamp tem se intensificado nos últimos anos. “Só neste ano, licenciamos duas patentes com a Universidade. A tendência é estreitar ainda mais as relações”.
Para Vera Crósta, agente de parcerias da Inova Unicamp, a rapidez na negociação do segundo licenciamento só foi possível porque estava estabelecida uma relação de confiança entre a empresa e a universidade. Segundo ela, para a universidade esta aproximação é interessante porque promove a formação de alunos conectados com o mercado. Enquanto a vantagem para a empresa é maior segurança no desenvolvimento do produto. “Associado ao licenciamento, haverá o desenvolvimento completar da tecnologia”, explica.
Patente e marca
O licenciamento de uma patente associada a uma marca é inédito na Unicamp. Segundo Vera Maria Duch Crósta, as negociações com a indústria geralmente envolvem apenas a transferência do produto. Neste caso, em especial, o registro da marca foi feito porque o reagente químico já havia sido batizado pelos autores da invenção.
A idéia de dar nome ao produto, conta o professor Wilson Jardim, surgiu durante o desenvolvimento da pesquisa a partir do peróxido de hidrogênio, substância convencional utilizada para descontaminação de áreas. “O que fizemos foi otimizar a reação de um grande químico chamado J.J.H. Fenton para os derivados de petróleo e, por isso, nada mais justo do que homenagear o autor dos primeiros trabalhos com tecnologias oxidantes. Ele descreveu a experiência em 1894. Foram resgatados mais de cem anos de conhecimento”.
O Fentox e o Fentox TPH, aliados ao peróxido de hidrogênio, possuem uma eficiência dez vezes maior para a remediação de áreas contaminadas. O Fentox é mais direcionado à descontaminação de substâncias líquidas, enquanto o Fentox TPH age, basicamente, nos solos. Além de mais barato que os métodos convencionais, os produtos são biodegradáveis e não deixam rastro de aplicação por causa da decomposição, o que favorece a aceitação pelas agências de proteção ambiental. Os compostos podem atuar de 12 a 24 horas, evitando-se o gasto extra do peróxido de hidrogênio.
(Por Raquel do Carmo Santos, Jornal da Unicamp, 21/12/2007)