Encarregado das negociações para encerrar a greve de fome do bispo dom Luiz Flávio Cappio em protesto pela transposição do rio São Francisco, o chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, disse que manifestações críticas fazem parte da democracia, mas classificou o ato como “autoritário”.
“O protesto é natural. Nós somos um governo democrático e convivemos diariamente com os protestos. Agora o governo tem que cumprir o seu papel e nós discordamos profundamente do método de dom Cappio, que no fundo é autoritário. Não é um método do diálogo. É um método de que de alguma forma eu faço uma chantagem sobre você. Se você não aceita minha opinião, eu morro e você é culpado”, afirmou em entrevista ao telejornal Repórter Brasil, da TV Brasil.
Durante os 24 dias em que o bispo ficou sem comer, Gilberto Carvalho afirmou ter procurado o melhor desfecho para a manifestação, mas garantiu que o governo não cogitou a possibilidade de interromper as obras.
“O tempo todo, nós mantivemos uma abertura grande. Desde o primeiro dia da greve de fome, o governo manteve intensa relação com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil [CNBB]. Dos oito pontos apresentados pelo grupo de dom Cappio, seis pontos muito importantes foram aceitos pelo governo com a construção de obras complementares da transposição. A única coisa que de fato não pudemos transigir era a questão da paralisação das obras”.
O chefe de gabinete de Lula disse que a greve de fome causou desconforto. “A CNBB, assim como o governo, se viu numa situação de muito constrangimento porque entendo que a maioria dos bispos do Brasil e a maioria da Igreja concorda com a discussão do projeto, mas não com o método que dom Cappio havia adotado. Tanto a CNBB, por meio de seu presidente, quanto o Vaticano fizeram um apelo para que ele deixasse a greve de fome”.
A tensão criada pelo protesto do bispo foi apontada por Carvalho como conseqüência da inflexibilidade do grupo que se opõe à transposição do São Francisco. Para ele, os opositores se negaram a dialogar porque depositavam confiança no Poder Judiciário para paralisar as obras.
“O que foi ficando muito claro para nós é que o grupo que cerca dom Cappio na verdade não estava apostando numa negociação com o governo. Estava apostando em uma vitória sobre o governo no Supremo Tribunal Federal (STF). Por isso não levou tão a sério a nossa negociação”, afirmou.
Na última quarta-feira, o STF cassou liminar que suspendia as obras da transposição. Debilitado pela greve de fome, dom Cappio desmaiou e foi hospitalizado após receber a notícia de que o projeto prosseguiria. Gilberto Carvalho lamentou o episódio. “Disse por telefone a dom Cappio que nós precisamos dele vivo até para coordenar o processo de oposição ao governo”.
(Por Hugo Costa, Agência Brasil, 22/12/2007)