Porto Alegre (RS) - Depois de quase sete anos do início das obras da hidrelétrica de Barra Grande, cerca de 500 famílias atingidas pela barragem ainda não foram indenizadas. A usina foi construída no Rio Pelotas, entre os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, inundando mais de seis mil hectares de mata nativa.
O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) denuncia que a Baesa, o consórcio responsável pela construção do empreendimento reconheceu apenas 1516 das 2087 famílias atingidas. Com isso, 571 ficaram sem qualquer compensação nem foram realocadas. Para o coordenador do MAB Ivanor Soares, o descaso com as famílias mostra que as hidrelétricas não são projetos sociais, e sim fontes de lucro para empresas privadas.
“É um projeto que é feito para ganhar dinheiro, então, quanto mais economizar do ponto de vista da obra social ou mesmo da obra de concreto, é lucro para as empresas. Então elas pegam um dinheiro do Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES), dinheiro financiado para construir isso. E o que eles economizam, acabam investindo em outras coisas”, diz.
Soares conta ainda que, entre os casos negados pela Baesa estão 47 comunidades rendeiras. Sem compensações financeiras ou remanejo, essas comunidades continuam vivendo no entorno da usina, em situações precárias. Com o enchimento do lago, elas ficaram isoladas e até mesmo sem transporte, com o desaparecimento das linhas de ônibus. Além disso, ele lembra que muitas das famílias que foram remanejadas também enfrentam dificuldades, como adaptação a um novo tipo de agricultura.
Já a assessoria de imprensa da Baesa confirma que o consórcio indenizou e reassentou 1500 famílias. No entanto, afirma que não tem qualquer pendência com as 500 famílias que ainda pedem indenizações. A maior parte delas não foi listada nem mesmo pelo governo para programas de benefícios. O consórcio da Baesa é formado, entre outras empresas, pela Votorantim, Alcoa e Camargo Corrêa.
A construção de Barra Grande foi marcada pela fraude no licenciamento. A empresa Engevix, que fez o Estudo de Impacto Ambiental (EIA-Rima), foi acusada por vários ambientalistas de omitir do relatório uma série de informações importantes sobre a biodiversidade local. A área, considerada estratégica para a preservação da Mata Atlântica, abrigava várias plantas e animais ameaçados de extinção. A Engevix é acusada, ainda, de fraudar o Estudo de Impacto Ambiental da hidrelétrica de Paiquerê, que deve ser construída perto de Barra Grande, no Rio Pelotas.
(Por Patrícia Benvenuti,
Agencia Chasque, 20/12/2007)