Banco público alemão financiou projetos brasileiros
Ao receberem documentos da Justiça Federal brasileira traduzidos, autoridades alemãs iniciaram investigação para apurar a falsificação de contratos de financiamento junto ao banco Kreditanstalt für Wiederaufbau (KfW), sediado em Frankfurt.
Foram contratados 157 milhões de euros (R$ 403,5 milhões) com aval ilegal da Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica (CGTEE), estatal federal, em 2005 e 2006. Dos cerca de 82 milhões de euros liberados pelo KfW, pelo menos 80 milhões permanecem sem destino conhecido. A verba beneficiou as empresas Hamburgo Energia, da Capital, e Winimport, do Paraná. Os recursos seriam utilizados na construção de usinas de biomassa.
Há 10 dias, a Justiça Federal brasileira encaminhou por via diplomática ao Judiciário e ao governo alemão cópia da decisão da 1ª Vara Criminal, que determinou a prisão preventiva de oito suspeitos. Sete foram detidos no dia 21 de novembro. Pelo menos seis foram liberados até o momento, sendo que um deles está em prisão domiciliar. Além do despacho judicial, documentos apreendidos na casa dos suspeitos e cruzamentos de dados bancários foram remetidos ao governo alemão.
Segundo o procurador da República Antônio Carlos Welter, que denunciou nove suspeitos na sexta-feira, o fato de o KfW ser uma instituição pública motiva a investigação do destino dos recursos. O banco já aceitou arcar com parte do prejuízo e liberou a CGTEE de pagar os financiamentos da Hamburgo depois de perícia da Polícia Federal (PF) atestar a falsificação dos contratos.
- Foi aberta uma investigação na Alemanha e esperamos o resultado, o que pode nos ajudar a esclarecer os fatos no Brasil. Acredito que o governo alemão quer esclarecer os fatos. Vamos confiar na eficiência do país do Primeiro Mundo - disse Welter.
De acordo com o procurador, os próximos passos da investigação dependem da parceria alemã:
- Infelizmente, ainda nos falta praticamente tudo para rastrear o dinheiro.
O foco é definir o destino dos recursos.
- Dependemos muito da cooperação do KfW. Seria bom se o banco pudesse nos informar para quem liberou os recursos, em que condições, e quando. A partir daí, talvez se possa fazer o rastreamento - disse Welter.
No Brasil, a PF deve abrir um segundo inquérito para apurar o suposto uso dos recursos em lavagem de dinheiro. Há suspeita de que recursos tenham ido para paraísos fiscais. O chefe do Núcleo de Repressão a Crimes financeiros, delegado Alexandre Isbarrola, aguarda dados da Alemanha:
- Informações da Alemanha são fundamentais para avançarmos na investigação.
Por Marciele Brum, Zero Hora, 24/12/2007)