Segundo líder, retirada de homens e máquinas de reserva em Rondônia ocorre de forma pacífica
Os cintas-largas da Terra Indígena Roosevelt, em Rondônia, decidiram retirar de seu território todos os garimpeiros de diamantes que não sejam indígenas. A retirada de homens e máquinas está sendo feita de forma pacífica e, segundo informações dos líderes cintas-largas, dentro de alguns dias não haverá mais nenhum invasor no garimpo. "Só vão ficar os donos da terra", disse ao Estado o coordenador da Comunidade do Povo Cinta-Larga do Estado de Rondônia e do Noroeste do Mato Grosso, Marcelo Cinta-Larga.
Ainda não está certo, porém, se o garimpo será totalmente interrompido. "Queremos parar com essa atividade e preservar a natureza, que está sendo destruída por causa das escavações", disse Marcelo. "Mas isso ainda vai depender do apoio que recebermos do governo para desenvolver projetos de sustentabilidade para o nosso povo."
Os cintas-largas, com uma população estimada em duas mil pessoas, estão espalhados em quatro reservas contíguas na fronteira dos Estados de Rondônia e Mato Grosso. Juntas, elas reúnem quase 23 mil quilômetros quadrados. Há sete anos, a descoberta de diamantes, quase à flor da terra numa dessas reservas, a Terra Indígena Roosevelt, provocou uma corrida de aventureiros para a região. No auge do garimpo, segundo informações do delegado Mauro Sposito, que coordena o setor de Operações Especiais de Fronteira, da Polícia Federal, quase 5 mil não-indígenas estavam acampados nas matas ao redor do Igarapé Lage, onde haviam sido localizados os diamantes.
Desentendimento
Para permanecer na área, os invasores davam aos índios uma pequena parcela dos lucros. Em 2004, porém, no meio de um grave desentendimento entre as duas partes, 29 garimpeiros foram mortos pelos cintas-largas. Logo em seguida, o governo federal montou uma operação de controle da área, destinada a acabar com o garimpo - legalmente proibido em terras indígenas.
Há uma semana, porém, ao sobrevoar a área, a reportagem do Estado constatou que a busca de diamantes prosseguia de forma intensa na área do Igarapé Lage, que praticamente desapareceu - em decorrência das escavações cada vez mais profundas na busca do diamante. Também foi constatado que índios e invasores trabalhavam lado a lado.
Agora os índios querem reverter esse quadro. Afirmam que vão abandonar o garimpo e explorar de forma sustentável outros recursos naturais de suas terras, que têm quase o tamanho do Estado de Sergipe. Mas há dúvidas quanto a isso. A expulsão dos garimpeiros poderia estar associada a outro fator: como já não se encontra diamante tão facilmente como ocorria anos atrás, os índios preferem garimpar sozinhos, sem ter de dividir os resultados com os invasores.
(Por Roldão Arruda, O Estado de S.Paulo, 23/12/2007)