O dia de hoje (22/12) marca, para os indígenas tzotziles e também para todos aqueles que lutam por um mundo mais justo, o décimo aniversário de um dos capítulos mais tristes da história mexicana: o massacre, em Acteal, de 45 indígenas dessa etnia. A matança de Acteal, como o episódio é conhecido, ainda hoje é marcada pelos desrespeitos aos direitos humanos, pois os militares acusados pelos crimes ainda estão impunes.
Para relembrar a data, o movimento "A Outra Campanha" apresenta amanhã, às 16h, no Fórum Aberto da Ágora da cidade de Xalapa, o vídeo "Alto à violência de Estado contra o povo que se organiza!". Em Acteal, as mobilizações a favor da justiça no caso da matança já começaram ontem com o Encontro Nacional Contra a Impunidade.
Cerca de 90 paramilitares, supostamente do grupo Máscara Vermelha, invadiram a zona zapatista de Los Altos de Chiapas (sureste de México) e atacaram os índigenas, que integravam a organização Las Abejas, enquanto esses rezavam em uma capela. O resultado do ataque, que durou cerca de sete horas, deixou 16 crianças e adolescentes, 20 mulheres - das quais sete grávidas -, e nove homens mortos.
As organizações sociais, como Sociedade Civil Las Abejas e Cetro de Derechos Humanos Miguel Agustín pro Juarez, disseram, em nota, que "toda tentativa de esquecer ou atenuar o caso fomenta a impunidade dos responsáveis materiais e intelectuais, já que pretende eximir o Estado de toda responsabilidade direta nesse crime".
Essas organizações criticam o fato de que o Estado não reconhece que a chacina integrou um plano estratégico contra-insurgente para acabar com o movimento zapatista e que nega a justiça às vítimas da Matança de Acteal e seus familiares. Nesse sentido, o Estado "demonstra sua falta de compromisso com o respeito pleno aos direitos humanos".
"O massacre não foi um acontecimento isolado. Numerosos fatos anteriores conduziram a este terrível sucesso. Entre eles cabe citar o desalojamento de milhares de pessoas, assim como os assassinatos perpetrados durante 1996 e 1997 no território de Chenalhó, Chiapas.
O descaso do Estado, que não investiga, nem esclarece o massacre indígena, com a justiça na matança deixa espaço para que o acontecido contra os indígenas tzotziles se repita, seja sob o pretexto do combate governamental ao narcotráfico ou à guerrilha. Durante o governo de Ernesto Zedillo, presidente em 1997, não se investigou com seriedade a matança de Acteal, nem nos governos seguintes.
Segundo as organizações sociais, no México, continua-se a prática de agredir a sociedade civil que se mobiliza por legítimas demandas frente a situações que requerem atenção por parte das autoridades. Como nos casos de Guadalajara, San Salvador Atenco e Oaxaca. Além disso, em território chiapaneco, grupos paramilitares, tropas regulares e policiais ameaçam constantemente a população local, inclusive sendo expulsos de suas casas.
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Adital, 21/12/2007)