A grande imprensa do eixo Rio-São Paulo não está prestando muita atenção à greve de fome do bispo baiano Luiz Flávio Cappio, da diocese de Barra (BA), que entra no seu décimo dia. A omissão inclui tanto o segundo protesto do religioso contra a transposição do rio São Francisco como as manifestações de apoio que vem recebendo das populações ribeirinhas.
A greve do bispo não agrada à hierarquia católica e, obviamente, não ao governo federal. É um ato eminentemente político, mas não repercute, não sensibiliza nem consegue motivar os chamados porteiros das redações mais inclinados aos escândalos e declarações bombásticas.
Este comportamento do bispo, baseado no sacrifício e na autoflagelação, parece não ajustar-se aos paradigmas vigentes na sociedade brasileira – e o descaso da mídia é simbólico.
Com os seus jejuns nos anos 30 e 40 do século passado, o Mahatma Gandhi conseguiu mobilizar os seus conterrâneos para a independência da Índia e comoveu o mundo. Em janeiro de 2008 serão lembrados os 60 anos do assassinato de Gandhi nas mãos de um fanático – e nem com esta referência histórica consegue-se encontrar na mídia um toque de compreensão e solidariedade.
A alma brasileira endureceu ou é a mídia que está perdendo a sua alma?
(Por Alberto Dines,
Observatório da Imprensa, 07/12/2007)