O Centro Nacional de Pesquisa, Conservação e Manejo de Mamíferos Aquáticos, órgão pertencente ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, lançou, na tarde de ontem, em Rio Grande, um pacote de ações objetivando a conservação das toninhas (pontoporia blainvillei). As ações serão realizadas em toda a área de ocorrência da espécie no Brasil - entre o Rio Grande do Sul e o Espírito Santo. A toninha é possivelmente a espécie de pequeno cetáceo mais ameaçada de extinção na região do Atlântico Sul Ocidental (ASO). No Rio Grande do Sul, a estimativa é de mais de 700 mortes por ano devido à interação com a pesca.
Conforme o oceanólogo Henrique Ilha, essa espécie tem ciclo de vida frágil, pois vive muito na zona costeira - de cinco a 30 metros de profundidade - e interage com a pesca de redes de emalhe, uma vez que se alimenta de peixes, como a corvina e a castanha. E o Rio Grande do Sul é um ponto importante para ser trabalhado, tanto devido à pesca quanto por ter organizações de renome internacional na área de pesquisa e conservação. As ações anunciadas ontem incluem a contratação de um consultor para fazer um projeto de estimativa populacional e de mortalidade da espécie, em toda sua área de distribuição no Brasil; criação de projeto de Educação Ambiental; diagnóstico e proposta de áreas para criação de unidades de conservação, e apoio direto à estimativa populacional por sobrevôo e monitoramento de praia.
Dentro desta proposta, o Centro Nacional, que conta com uma base junto ao Centro de Pesquisas do Ibama (Ceperg) em Rio Grande, está repassando R$ 130 mil ao Laboratório de Mamíferos Marinhos (Departamento de Oceanografia) e Museu Oceanográfico, ambos da Furg, a serem investidos no levantamento da estimativa populacional das toninhas, por meio de sobrevôos, entre Santa Catarina e Espírito Santo. "Vamos nos juntar à Furg para fazer os sobrevôos. Os recursos são provenientes de um programa de conversão de multas de empresas sísmicas (que fazem prospecções sísmicas para encontrar jazidas petrolíferas)", relatou o oceanólogo.
A Furg iria fazer este levantamento populacional até Santa Catarina e, a partir do apoio financeiro do Centro Nacional, vai estendê-lo até o Espírito Santo. Durante o lançamento das ações, no auditório do Ceperg, foi assinado um termo de compromisso com a Furg neste sentido. Também foi repassada uma viatura (um Land Rover) ao Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental (Nema) para uso no monitoramento de praia voltado aos mamíferos marinhos, especialmente às toninhas. "O Centro está renovando sua frota e doando uma viatura antiga ao Nema, pois precisamos ter presença na praia", destacou Henrique Ilha.
A espécie
A toninha vive cerca de 20 anos. Sua reprodução ocorre a cada dois anos. Tem gestação de 11 meses e amamenta durante nove meses. Sua alimentação principal é peixes. Concentra-se em áreas de cinco a 30 metros de profundidade e distribui-se entre o Rio Grande do Sul e o Espírito Santo. A estimativa da população que ocorre no Rio Grande do Sul é de 17 mil toninhas.
(Por Carmem Ziebell, Jornal Agora, 21/12/2007)