"É lógico que acabou; não tem jeito", diz João Franco Cappio, irmão de d. Luiz Ao saber da decisão do STF, bispo desmaiou e recebeu atendimento médico; ele ficou semi-inconsciente e em estado de sonolência
O bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, 61, foi internado ontem à noite na Unidade de Tratamento Intensivo do Hospital Memorial, em Petrolina (PE), após greve de fome de 22 dias e dez horas contra o projeto de transposição das águas do rio São Francisco.
Dom Luiz desmaiou às 15h ao ser informado da decisão do Supremo Tribunal Federal de manter as obras da transposição. Despertou com ajuda médica e dormiu em seguida.
Acordou às 16h30, mas, segundo o médico que o atendeu durante a greve, frei Klaus Finkam, ficou "semi-inconsciente, com estado geral comprometido". Segundo ele, o bispo autorizou o médico tomasse as decisões que julgasse necessárias. A internação ocorreu, disse Finkam, "para evitar possíveis danos permanentes". Segundo ele, o bispo "reage, fala, mas com dificuldade, em um estado de sonolência": "Eu entendo que a greve de fome acabou".
Ele foi removido às 19h40 em uma ambulância do Samu. Saiu numa maca e de olhos fechados da igreja de São Francisco, em Sobradinho (BA), sob aplausos de cerca de cem pessoas que acompanhavam missa no local.
Logo após a internação, entidades contrárias à transposição, como a CPT (Comissão Pastoral da Terra) e a ONG Articulação São Francisco Vivo, se apressaram em dizer que a greve de fome não havia acabado e que d. Luiz decidiria a respeito ao recobrar a consciência. A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) chegou a reproduzir, em nota, as informações da CPT, mas as entidades foram desautorizadas pela família do bispo.
"É lógico que acabou [o jejum]. Não tem outra forma, não tem jeito. Chegamos a esse triste desfecho pela intransigência das nossas autoridades, mas é claro que a greve acabou", disse João Franco Cappio, 71, irmão do bispo. Foi a própria família de d. Luiz que pediu a ambulância, por recomendação médica. "Daqui para a frente quem fala [pelo bispo] é a família e o médico", disse João Cappio. Dom Luiz recebeu a notícia sobre a decisão do STF na igreja de São Francisco, durante reunião com seus apoiadores. Ficou em silêncio e depois disse: "É um desalento muito grande". Desmaiou em seguida, segundo seu assessor Rubem Fonseca.
A saúde do religioso vinha piorando nos últimos dias. Na noite de anteontem, ele sentiu dores em todo o corpo e fraqueza mais intensa. Segundo boletim médico, d. Luiz tinha pressão arterial baixa e perdeu nove quilos: "Seu estado geral continua apresentando uma fragilidade que aumenta a cada dia".
As funções renais, que apresentaram sinais de disfunção, estavam sendo monitoradas. Exames laboratoriais, disse o médico, revelaram que as taxas ainda se encontravam fora dos parâmetros normais, mas "próximas da normalidade". Dom Luiz caminhava com dificuldades, amparado por parentes ou amigos. Ontem, só saiu da igreja pela manhã, para participar de uma vigília por uma decisão favorável no STF, que não veio.
(Fábio Guibu,
Folha de São Paulo, 20/12/2007)