A BP, gigante britânica do petróleo que prometeu ir ‘além do petróleo’ ao descobrir novas maneiras limpas de produzir combustíveis fósseis, é acusada de abandonar o lema verde ao investir quase 1,5 bilhões de libras na extração de óleo no Canadá, utilizando métodos que os ambientalistas dizem ser parte do “maior crime ambiental da história”.
A produtora multinacional de petróleo e gás, que lucrou 11 bilhões de libras ano passado, enfrenta confrontos com o lobby verde nas florestas da América do Norte desde que o Greenpeace anunciou uma campanha contra a BP. O motivo foi a decisão da empresa de reverter sua política e investir pesado na extração das chamadas “areias de petróleo” que ficam abaixo da província canadense de Alberta e formam a segunda maior reserva de petróleo já encontrada no mundo, após a Arábia Saudita.
A produção de óleo a partir das areias de alcatrão (uma mistura pesada de betume, água, areia e argila) descoberta embaixo de uma floresta de mais de 54 mil milhas quadradas de árvores virgens no norte de Alberta (área do tamanho da Inglaterra e Gales juntos) poderá gerar quatro vezes mais dióxido de carbono (CO2), principal gás causador do efeito estufa, do que uma perfuração convencional. A crescente indústria das ‘areias de petróleo’ irá produzir 100 milhões de toneladas de CO2 (equivalente a um quinto das emissões anuais de todo o Reino Unido) por ano até 2012, o que fará com que o Canadá não alcance a sua meta sob o Protocolo de Kyoto, segundo ambientalistas.
A corrida do petróleo também ameaça uma paisagem selvagem: milhões de toneladas de plantas e solo serão retirados nos campos abertos das minas e milhões de litros de água serão retirados dos rios (até cinco barris de água são necessários para produzir um único barril de óleo - e o processo requer quantidade enormes de gás natural). A indústria, que agora inclui todas as grandes multinacionais do petróleo, como a Shell e a Exxon-Mobil, orgulha-se de retirar quase duas toneladas de área bruta para produzir um único barril de petróleo. A BP insiste que irá utilizar um método menos danoso, mas assume que o investimento irá aumentar a sua pegada de carbono.
Mike Hudema, representante de clima e energia do Greenpeace Canadá, disse ao The Independent: “A BP tem feito um ótimo trabalho nos últimos anos promovendo seus objetivos verdes. Ao entrar para a extração do alcatrão, a empresa está participando do maior crime relacionado ao aquecimento global já visto”.
“São necessários cerca de 29 quilos de CO2 para produzir um barril de petróleo convencional. Este número pode chegar a 125 quilos para o óleo de alcatrão. Além disso, tem o potencial de acabar (ou danificar) com a imensidão de floresta selvagem, maior do que a Inglaterra e Gales, que formam parte de um dos maiores poços de carbono do mundo”, acrescenta. Segundo Hudema, o Greenpeace está planejando uma campanha contra a BP, o que pode interromper as suas atividades e o início dos trabalhos de construção em Alberta no próximo ano.
O Canadá alega que possui 175 bilhões de barris de petróleo a serem recuperado em Alberta, tornando a província a segunda em riquezas petrolíferas - atrás somente da Arábia Saudita - e iniciando uma “corrida ao petróleo” de 50 bilhões de libras. Apesar de os custos de produção chegarem a 15 libras por barril, em comparação com o custo de 1 libra na Arábia Saudita, a província canadense espera retirar cinco milhões de barris de óleo por dia em 2030.
A BP anunciou que utilizará uma tecnologia que bombeia vapor aquecido por gás natural em poços verticais para liquefazer as areais de óleo solidificadas e as bombear para a superfície de maneira menos danosa do que uma mineração aberta. Mas opositores dizem que este método requer mil pés cúbicos de gás para produzir um barril de betume não-refinado (a mesma quantidade necessária para aquecer uma residência britânica por 5,5 dias).
Um porta-voz da BP adicionou: “Estes são recursos que teriam sido desenvolvidos de qualquer maneira”. As licenças foram expedidas pelo governo de Alberta para a extração de 350 milhões de metros cúbicos de água do Rio Athabasca por ano. Mas a água utilizada no processo de extração, dizem os opositores, estará tão contaminada que não poderá voltar ao ecossistema e deverá ser estocada em grandes tanques que cobrem até 20 milhas quadradas. Há ainda evidências de um aumento nas taxas de câncer e esclerose múltipla nas comunidades a jusante do rio.
Especialistas dizem que as tentativas para restaurar a área das minas para as condições naturais antecedentes não são animadoras. David Schindler, professor de ecologia da Universidade de Alberta, disse: “Agora a maior pressão é para retirar o dinheiro do subsolo, não restaurar a paisagem. Eu não ficaria surpreso se pudermos ver estes pontos por satélite daqui a mil anos”.
(Por Cahal Milmo*, The Independent Journal, traduzido por Fernanda Muller,
CarbonoBrasil, 19/12/2007)