O aquecimento global não está sozinho na Groenlândia. Um grupo de pesquisadores dos Estados Unidos acaba de anunciar o que considera outro motivo para o derretimento na maior ilha do mundo – onde o gelo cobre 80% dos 2,1 milhões de quilômetros quadrados. Trata-se de um pequeno ponto na crosta terrestre por meio do qual o magma aquece o gelo nas camadas mais superficiais. O “ponto quente” foi encontrado no nordeste da ilha que pertence à Dinamarca, sob um local em que foi descoberta recentemente uma corrente de gelo, como são chamadas as placas que se movem mais rápido do que as outras em seu redor.
Os cientistas ainda não calcularam a temperatura do ponto, mas apontam que se for quente o suficiente para derreter o gelo que o cobre – ainda que apenas um pouco – poderá lubrificar a base das placas e fazer com que elas deslizem mais rapidamente para o mar.
As causas também são desconhecidas. “Pode ser que exista um vulcão lá embaixo, mas achamos que é provavelmente apenas a maneira como o calor está sendo distribuído pela topografia nas rochas na base da camada de gelo”, disse Ralph von Frese, professor de Ciências da Terra da Universidade do Estado de Ohio e coordenador da pesquisa. O estudo foi apresentado em reunião da União Geofísica dos Estados Unidos, realizada no dia 13 de dezembro, em São Francisco.
Os cientistas combinaram medidas gravitacionais da área, feitas por uma aeronave do Laboratório de Pesquisas Navais da Marinha norte-americana, com medidas tomadas por radares aéreos. O mapa resultante revela mudanças na massa sob a crosta terrestre, além da topografia da crosta na área em que ela se encontra com o manto de gelo.
“Onde a crosta é mais espessa, as coisas são mais frias. Onde ela é mais fina, tudo fica mais quente. E, sob um lugar tão grande como a Groenlândia ou a Antártica, variações naturais na crosta fazem com que partes do manto de gelo fiquem mais quente do que em outros locais”, explicou von Frese.
A espessura do gelo, a temperatura em sua base e a topologia do local são fatores que contribuem para a formação das correntes de gelo, espécies de rios que correm em meio a um grande manto. Recentemente, essas correntes na Groenlândia têm movido o gelo mais rapidamente para o mar, diminuindo a cobertura na ilha. Uma vez que o gelo atinge o mar, ele derrete e eleva os níveis oceânicos.
“O derretimento completo dessas placas de gelo continentais seria suficiente para colocar a maior parte da Flórida, bem como New Orleans e mesmo New York, debaixo d’água”, disse von Frese. “O comportamento dos grandes mantos de gelo é um importante medidor das mudanças climáticas globais. Entretanto, para separar e quantificar eficientemente os impactos humanos nas mudanças climáticas, temos que entender também os impactos naturais”, destacou o cientista.
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Envolverde/Agência Fapesp, 19/12/2007)