Os projetos industriais para os quais o governador Paulo Hartung está criando toda a logística no sul do Estado custarão caro para as populações locais: toda a água da região será utilizada para o abastecimento das usinas. Isso inclui, desde o uso das águas subterrâneas, a captação na lagoa Mãe-Bá e na bacia do Benevente e, na seqüência, a transposição das bacias do Rio Novo e Itapemirim.
O quadro é desesperador no horizonte de 30 a 50 anos, segundo avalia o presidente do Grupo de Apoio ao Meio Ambiente (Gama), Bruno Fernandes da Silva.
Nesta terça-feira (18), a secretaria de Estado do Meio Ambiente (Seama), Maria da Glória Brito Abaurre, divulgou informação em A Tribuna, dando conta da criação de um grupo de trabalho sobre água. O grupo é criado com a promessa de estudar alternativas para o município de Anchieta, com a construção da Baosteel, siderúrgica chinesa que terá participação da Vale.
A usina será de grande porte, com capacidade para produzir 5 milhões de toneladas/ano, o equivalente às duas primeiras usinas da ArcelorMittal Tubarão (ex-CST), na Grande Vitória. Os chineses e a Vale ameaçam dobrar a capacidade da usina que vão construir em Ubu, na divisa de Anchieta com Guarapari, a médio prazo.
Segundo destacou o presidente do Gama em relação ao que fazer sobre aos recursos hídricos na região, principalmente acerca dos problemas que serão gerados pelas novas indústrias, a obrigação do governo do Estado é “dialogar com o Comitê da Bacia do Rio Benevente”, que será o gestor das águas na região. Disse que não tem informações se o grupo de trabalho anunciado pela secretária da Seama está, ou não, ligado ao comitê.
Para o ambientalista Bruno Fernandes da Silva, a situação do sul é preocupante, pois os moradores de Ancheita já ficam sem água do sistema de abastecimento por dias seguidos, principalmente no verão.
Aponta que os estudos terão que ser aprofundados, e no caso da Baosteel, uma possível medida é o reuso da água da Samarco, que a empresa lança na lagoa Mãe-Bá. Isso poderia reduzir a contaminação da água da lagoa que a Samarco provoca, inclusive com o lançamento de metais pesados.
Mas essa é apenas uma solução paliativa, diz o ambientalista. Com os projetos anunciados e defendidos para a região no que o governo Paulo Hartung chamou de Pólo Industrial de Anchieta, não haverá água para a população e para a indústria. Pelo menos no horizonte superior a 30 anos.
“O governo vai dizer, como sempre faz, que será garantida prioridade para o abastecimento humano na região. Mas não temos dúvida de que vão captar água na lagoa Mãe-Bá, a água subterrânea da região, e do rio Benevente, no médio prazo. A longo prazo, as indústrias demandarão progressivamente as águas das bacias do rio Novo e depois do Itapemirim. O futuro da região sul em termos de recursos hídricos é assustador”, sintetiza Bruno Fernandes da Silva.
No caso do lançamento dos efluentes da Baosteel no mar, o ambientalista lembra que a região é área de maior desova de tartaruga da região sul. Os efluentes irão não só alterar e destruir o ambiente de reprodução desta espécie, como também os estoques de peixes. Afetarão, por conseqüência, a vida dos pescadores, que não terão o que fazer.
Além da destruição da água, o mega projeto do governo Paulo Hartung para o sul aumentará a poluição do ar e da terra. Trarão grandes prejuízos sociais, com previsível aumento do desemprego, violência e de demanda aos serviços de saúde e educação, entre outros impactos.
No pólo de Ubu já existem em operação duas pelotizadoras da Samarco, e uma terceira está pronta para operar. Na região serão construídas mais três unidades de pelotização (poderão ser dez pelotizadoras no total). Além da siderúrgica da Baosteel e da Vale, outras siderúrgicas poderão ser construídas no local. Haverá um novo terminal portuário e uma unidade de tratamento de Gás (UTG) da Petrobras. Para garantir a logística, será construída a Ferrovia Litorânea Sul, da Vale.
(Por Ubervalter Coimbra,
Século Diário, 19/12/2007)