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desastre de chernobyl passivos da energia atômica
2007-12-19
Nos confins da União Européia, nas fronteiras com o Belarus e com a Letônia, ainda existe uma central nuclear de tipo Chernobyl. Nesta região remota da Lituânia havia sido empreendida, há trinta anos, a construção dos dois mais poderosos reatores, conhecidos pela sigla RBMK, a entrar em operação em toda a história da União Soviética. Dois monstros de 1.500 MW (megawatts) cada um. Um único deles continua funcionando até hoje, mais de vinte anos depois da explosão do reator n° 4 de Chernobyl (Ucrânia). Mas ele está com os dias contados.

Uma das condições para a incorporação da Lituânia na União Européia (UE), em maio de 2004, era o fechamento da sua central de Ignalina. O reator nº 1 teve as suas atividades encerradas em 31 de dezembro de 2004. O documento que celebra a sua entrada na UE define como prazo a data de 31 de dezembro de 2009 para a Lituânia fazer o mesmo com o reator nº 2. À medida que esta data se aproxima, e preocupado com o seu futuro energético, o país poderia ceder à tentação de pedir um prazo suplementar. A Comissão Européia já divulgou a sua posição a respeito: um questionamento tão drástico do tratado de incorporação seria inadmissível. Mas as autoridades lituanas estudam diversas alternativas de recurso possíveis.

Com efeito, a central de Ignalina constitui o pulmão energético deste pequeno país de 3,4 milhões de habitantes. "Ela fornece a maior parte da nossa eletricidade e ainda nos permite reservar 300 MW para a exportação aos países vizinhos", explica Viktor Shevaldin. Este russo, o diretor da central desde 1991 e que adquiriu a "cidadania" lituana, supervisionou todos os programas de adequação da Ignalina aos padrões internacionais. Primeiro, as obras que foram empreendidas antes do desmoronamento da União Soviética com o objetivo de remediar, em regime de emergência, às falhas dos RBMK, que haviam sido cruelmente escancaradas em Chernobyl. Depois, as modificações que foram recomendadas por um relatório da Agência Internacional da Energia Atômica (AIEA), que tiveram a realização verificada por uma expertise internacional, e que, em sua maior parte, já foram concluídas. Estas últimas, que custaram mais de 300 milhões de euros (valor equivalente hoje a R$ 780 milhões), foram financiadas pela metade pela Lituânia, por um terço pela Suécia, o restante ficando por conta da UE.

Segundo Viktor Shevaldin, a Ignalina não tem mais nada a ver com Chernobyl, onde a explosão havia sido provocada por um teste de funcionamento que fora conduzido sem levar em conta nenhuma das regras de segurança. "Um único defeito ainda subsiste", reconhece o engenheiro. "A regulamentação internacional exige a construção de um recinto para confinamento". A inexistência deste último em Chernobyl impediu que se aprisionasse a nuvem tóxica. Mas o reator é tão volumoso que esta medida não foi considerada como economicamente realista. O que explica o prazo de 2010 que foi dado pela UE. "Trata-se de um compromisso político: a Lituânia fecha antes do prazo, a União Européia financia este fechamento", resume Shevaldin. Um fundo internacional, administrado pelo Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento (BERD), e alimentado pela União, foi constituído para esta finalidade.

A central conta atualmente 3.100 empregados. Depois do seu fechamento definitivo, "nós demitiremos 1.000 pessoas", avalia Viktor Shevaldin. Os moradores de Visaginas, o conjunto habitacional-dormitório de 29.000 habitantes situado ao lado da usina elétrica, não escondem a ansiedade. Muito além do que poderia acontecer com a sua cidade, o prefeito, Vytautas Rachkauskas, se diz preocupado com uma provável "onda de fome energética" que tomaria conta do seu país.

Em Vilnius, a capital, os oficiais se mostram menos pessimistas. "Eu não estou prevendo a ocorrência de nenhum blecaute", assegura Arturas Dainius, o vice-ministro da economia: a Lituânia dispõe de antigas centrais elétricas a gás, que estão passando por um processo de renovação e que serão capazes de atender à demanda. Mas a fatura corre o risco de ser tanto mais elevada que a Rússia, o fornecedor, enfrenta atualmente dificuldades para garantir as suas próprias necessidades no inverno e poderia ser tentada a exercer pressões sobre os seus antigos vassalos. Do mesmo modo que fez recentemente em relação à Ucrânia.

O princípio da construção de novos reatores nucleares em Ignalina parece ser ponto pacífico - a multinacional francesa Areva está entre os candidatos. Mas a decisão está esbarrando na questão da partilha entre os setores público e privado, além das partes respectivas dos outros países bálticos (Letônia e Estônia) e da Polônia no quadro do futuro consórcio. De tal forma que a entrada em funcionamento prevista para 2015 da futura unidade parece hipotética. Não faltam aqueles que prefeririam manter a Ignalina funcionando até que sejam construídas linhas elétricas entre a Lituânia e a Suécia e a Polônia, que conectariam os países bálticos, até então vinculados essencialmente à Rússia, com a rede ocidental. Mas esta interconexão não poderá ser concluída antes de meados da próxima década.

Em caso de prorrogação da vida da central, seria necessário, segundo o seu diretor, efetivar uma encomenda de combustível para a Rússia "antes de setembro de 2008", de modo a evitar o esgotamento dos estoques. "O governo tomará a sua decisão em meados do verão de 2008", promete o vice-ministro da economia.

(Por Hervé Morin, Le Monde, tradução de Jean-Yves de Neufville, UOL, 18/12/2007)




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