Um projeto desenvolvido por pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP estabelece um plano de negócios que visa reduzir perdas no processo de produção do etanol pelas indústrias sucro-alcooleiras e fornecer um conservante natural para a indústria alimentar.
O plano está descrito no trabalho Nanobiotecnologia em probióticos para a produção de biorremediadores para o setor sucro-alcooleiro e de conservantes para alimentos, e a proposta é a realização de uma parceria que conjugue os recursos industriais com o know-how dos pesquisadores na cultura de bactérias.
Segundo o biólogo Juliano Paccez, que integra a equipe responsável pelo projeto, a proposta é usar a bactéria probiótica Bacillus subtilis, desenvolvida geneticamente para produzir a bacteriocina nisina (proteína capaz de inibir o desenvolvimento de microorganismos indesejados). “O processo fermentativo da cana-de-açúcar para a produção de etanol é aberto, o que torna o caldo vulnerável à contaminação e, conseqüentemente, diminui a quantidade de álcool produzido”, descreve o biólogo. “A nisina seria utilizada para reduzir a carga bacteriana deste caldo”, completa.
A bacteriocina nisina já é usada na indústria alimentícia para conservação de embutidos como a salsicha. A bactéria também é utilizada no setor pecuário como probiótico adicionado à ração, promovendo o crescimento e bem-estar do animal sem a necessidade de se recorrer a antibióticos e hormônios.
Produção nacional
O projeto propõe como alternativa ao uso de antibióticos pela indústria sucro-alcooleira e também à importação de nisina, a produção nacional da bacteriocina em sistema de parceria. “A indústria forneceria o caldo-de-cana excedente e o grupo realizaria o cultivo de Bacillus subtilis neste material, direcionando parte da nisina obtida para a indústria sucro-alcooleira como contrapartida, e vendendo a parte restante para a indústria alimentícia.” esclarece o farmacêutico Rafael Cavalcante, outro integrante do grupo de cientistas que é coordenado pelo professor Luis Carlos de Souza Ferreira, chefe do Laboratório de Desenvolvimento de Vacinas do ICB.
Cavalcante conta que Ferreira sempre estimulou o grupo a buscar novos usos práticos para produção e purificação de proteínas realizadas no laboratório, não se restringindo ao desenvolvimento de vacinas. A equipe pretende agora continuar neste caminho, buscando outras proteínas de uso industrial e descobrindo novas aplicações para as já utilizadas.
“Nossa proposta é justamente oferecer novas alternativas ao mercado, utilizando o conhecimento acadêmico e a estrutura que temos na universidade para gerar um conhecimento aplicável, dando o devido retorno à sociedade pelo investimento feito nas pesquisas”, completa o biomédico Wilson Barros Luiz.
O projeto desenvolvido pelos três cientistas foi o vencedor da edição 2007 do Prêmio Santander de Empreendedorismo, na categoria Biotecnologia.
(Por Luiza Caires, Agência USP de Notícias, 17/12/2007)