Ele critica indiferença e diz que índios têm cometido atos radicais, como o seqüestro, para chamar a atenção para problemas

O sertanista Sidney Possuelo, um dos maiores especialistas na questão indígena, acha preocupante o cenário atual, em que índios seqüestram policiais e autoridades para chamar a atenção para suas reivindicações.  Ex-coordenador de Índios Isolados da Funai - foi exonerado em 2006 por criticar seu presidente, Mércio Pereira Gomes -, ele considera que "o governo virou as costas à questão indígena".

Para que aponta o futuro?
Na medida em que avancem as atividades que precisam de muito espaço, como soja e o biodiesel, haverá conflitos.  Conforme avance a ocupação da Amazônia, teremos problemas.  Temos a Lei 6.001, que garante a proteção das comunidades indígenas, mas ela não é cumprida.

Como o governo tem agido?
O governo tem mostrado grande indiferença.  O último encontro das entidades que representam populações silvícolas acabou com uma grande reprimenda à administração federal.  As autoridades viraram as costas aos problemas na área e a assistência tem sido falha.

Por que têm ocorrido casos extremos, como o seqüestro do funcionário da ONU e dos policiais?
Historicamente, os índios sempre foram vitimados pelos brancos.  Esses atos mais fortes têm o objetivo de chamar a atenção da sociedade e do governo para a situação que enfrentam.  Há dificuldades em todo o País.

Como está o atendimento às populações indígenas?
Certa vez, ainda na Funai, recebemos o pedido de ajuda dos índios do Vale do Javari, com problemas de hepatite.  Montamos dois barcos com médicos e remédios para tratar deles, mas quando saí recebi o aviso de que a Procuradoria da República entrara com ação e tivemos de voltar.  No fundo, há quem pense que os índios têm que morrer.  A Funai não tem recursos, embora o governo gaste fortunas com ONGs, muitas acusadas de malversação.  Além disso, praticamente só há estagiários na Funai e pouca gente preparada.

O que se pode fazer?
Temos de denunciar o que ocorre em todos os lugares possíveis e pressionar o governo para que cumpra seu papel.  É de importância fundamental que a Funai tenha recursos para agir e qualificar seu pessoal.

(Por Moacir Assunção, O Estado de S.Paulo, 15/12/2007)