O assessor nacional da Cáritas, Luiz Cláudio Mandela, rebateu, na tarde desta segunda-feira (17), informações divulgadas na imprensa nacional de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva aceitaria não retomar as obras de transposição do rio São Francisco até 7 de janeiro para acabar com a greve de fome do bispo de Barra (Bahia), d. Luiz Cappio. Segundo Mandela, a informação faz parte de um jogo da presidência, já que o prazo estabelecido pelo governo coincidiria com o período de recesso dos funcionários públicos responsáveis pela construção da obra.
De acordo com informações da agência O Estado, em uma série de conversas com representantes da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e com o próprio Cappio, o chefe de gabinete pessoal da Presidência, Gilberto Carvalho, teria dito que o governo, "num gesto de ‘boa vontade’, está disposto a criar um ambiente de distensão e negociação".
O assessor da Cáritas, que também faz jejum em solidariedade ao bispo, disse que na reunião realizada na manhã desta segunda, na CNBB, a única proposta do Governo foi de aumentar os recursos para a construção de cisternas em troca do fim do protesto de Dom Cappio. "Nós estamos sabendo dessas informações [de não retomada até o dia 7] através da imprensa", afirmou. Mandela ressaltou ainda que a proposta de Lula é "ridícula", ao imaginar que a construção de cisternas vai fazer dom Cappio desistir do jejum.
Para Miriam Belo, da Articulação São Francisco Vivo, o suposto anúncio da presidência é "uma falácia", uma vez que não está nas mãos do Governo decidir pela retomada ou não das obras. "Isso depende da justiça e não do Lula", ressaltou. As obras de transposição estão paralisadas por decisão da Justiça, que na próxima quarta-feira (19) deve julgar uma liminar sobre o assunto.
Manifestações - Nesta segunda-feira (17), data em que o Frei Dom Luiz Cappio, bispo de Barra (Bahia), entra em seu 21o dia de jejum e vigília em protesto às obras de transposição do Rio São Francisco, movimentos e entidades da sociedade civil realizam o Dia Nacional de Vigília e Jejum Solidário. Pelo menos nove estados brasileiros e o Distrito Federal participam do dia de atividades em apoio a Dom Cappio.
Em Brasília (DF), o ato começou pela manhã, no gramado em frente ao Palácio do Planalto, onde, às 18hs (horário de Brasília), acontece uma celebração ecumênica. A idéia é que o protesto na Esplanada seja mantido até o dia 19, quarta-feira, quando o Supremo Tribunal Federal deve votar o agravo do procurador geral da República, Antônio Fernando Barros e Silva de Souza, que determina a imediata paralisação das obras de transposição do Rio São Francisco e a suspensão dos efeitos da licença de instalação.
Em Sobradinho (BA), na Capela São Francisco, onde o frei Luiz permanece, a vigília e jejum solidários acontecem na terça e quarta-feira (18 e 19) envolvendo religiosos e outras pessoas ligadas à igreja, representantes de organizações sociais e movimentos populares que apóiam a luta contra o projeto de transposição. A programação envolve momentos de oração e de debate sobre o gesto.
Na cidade de Fortaleza, Ceará, representantes de movimentos como a Comissão Pastoral da Terra (CPT), Cáritas Regional e Movimento dos Sem Terra (MST) estão, desde o meio dia, realizando uma vigília em apoio a Dom Cappio. De acordo com Francisca Sena, da Cáritas Regional, alguns manifestantes deram início, também neste horário, a um jejum solidário que deve durar 24 horas. "Neste gesto, queremos mostrar que existe oposição ao projeto de transposição", explica Sena.
Por ocasião do Nacional de Vigília e Oração, diversas lideranças nacionais em diferentes estados começaram jejuns de 24 e 12 horas, entre elas: Isidoro Revers (Galego), da direção da Comissão Pastoral da Terra; Luiz Cláudio Mandela, assessor nacional da Cáritas; e Éden Magalhães, secretário-executivo do Cimi. O movimento de jejum solidário iniciado no dia 30 de novembro, hoje tem mais de 200 adeptos em todo o país e no exterior, segundo a Articulação do São Francisco. Os manifestantes costumam permanecer de um a dois dias ingerindo apenas água.
O Dia Nacional de Vigília e Oração foi motivado pela nota do Conselho Episcopal Pastoral da CNBB, divulgada dia 12, que convida "as comunidades cristãs e as pessoas de boa vontade a se unirem em jejum e oração a Dom Luiz Cappio, por sua vida, sua saúde e em solidariedade à causa por ele defendida".
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Adital, 17/12/2007)