O Brasil aproveitou o cenário da conferência climática de Bali, na Indonésia, para anunciar a implementação de um fundo voluntário para proteger a Amazônia e sua decisão de adotar metas nacionais de redução do desmatamento. O Fundo para a Proteção e Conservação da Amazônia brasileira será voluntário e poder estar pronto na primeira metade de 2008 com uma base inicial deUS$ 150 milhões, que serão operados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento. Cerca de US$ 100 milhões seriam entregues pela Noruega.
O fundo será administrado por um conselho consultivo e integrado por representantes dos governos federal e estaduais, de organizações não-governamentais, dos cientistas nacionais e estrangeiros e de empresas. O desmatamento e os incêndios florestais respondem por quase 75% dos gases causadores do efeito estufa emitidos pelo Brasil. Mas, nos últimos três anos o País conseguiu reduzir em 59% a perda de florestas. Segundo disse à imprensa a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, isso equivale a “500 milhões de toneladas a menos de carbono”, o principal desses gases. “Estamos dispostos a seguir metas internas e passiveis de controle” para o desmatamento, acrescentou.
Em troca de contribuições voluntárias para o fundo, Brasília entregará diplomas certificando a redução de emissões de gases que causam o aquecimento da atmosfera, equivalentes a cada doação. Mas, ao contrário de um fundo lançado esta semana pelo Banco Mundial para evitar a destruição de selvas nos países em desenvolvimento. Os papéis que forem emitidos pelo governo brasileiro não poderão ser comercializados nos mercados de carbono. Não existindo o incentivo financeiro, Brasília acredita atrair empresas interessadas em vincular sua imagem ao combate da contaminação do clima.
Com o rei da sojaA ministra fez os anúncios acompanhada do governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, um empresário que no passado foi considerado um destruidor da floresta e agora transformado em protagonista do combate à destruição das florestas amazônicas. Marina Silva disse que a redução da área amazônica desmatada foi possível graças aos esforços do Mato Grosso, que nos últimos três anos reduziu em 79% a destruição de suas florestas.
Maggi participou, junto com a ministra, do lançamento de um acordo para criar o Plano Estatal de Prevenção e Controle do Desmatamento. Pouco depois, esteve em um debate junto com o especialista Daniel Nepstad sobre custos e benefícios que seriam obtidos com o fim da destruição da floresta. Nepstad é autor do estudo “Os círculos viciosos da Amazônia”, publicado pelo Fundo Mundial para a natureza (WWF), e nos últimos 21 anos analisou o impacto dos incêndios florestais, a “savanização” dessa selva, as políticas públicas e as tendências futuras da região e sua população. A presença de Maggi “aqui é um bom começo”, disse Nepstad à IPS.
Há dois anos, a organização Greenpeace concedeu a Maggi o antiprêmio “A motosserra de ouro” por considerá-lo um dos indivíduos que mais contribuíam para a destruição da Amazônia. O governador é o maior produtor individual de soja e sua empresa responde por 5% da colheita brasileira anual dessa oleaginosa, sucesso este atribuído ao corte maciço de floresta. “Por isso estou céptica, embora reconheça que se veio até Bali é porque tem disposição ao diálogo”, disse à IPS Julina Radler, jornalista da Sumaúma Documentários, do Rio de Janeiro.
Durante sua exposição Maggi disse que o próximo passo é o governo federal pagar os Estados para que invistam na conservação da floresta. A execução do programa beneficiaria os produtores agrícolas e garantiria a conservação das reservas naturais, disse. “Essa questão da mudança climática é como a Santíssima Trindade, na qual há um Pai, um filho e o Espírito Santo, e o carbono é como o Espírito Santo, que ninguém vê, mas todos sabem que existe”, brincou o governador.
O professor Yadvinder Malhi, estudiosos dos ecossistemas tropicais da Universidade de Oxford, viu com otimismo o exemplo de Maggi, porque “é uma oportunidade para compreender a vulnerabilidade da reserva de Mato Grosso e sua importância no equilíbrio mundial”, afirmou. Os anúncios feitos pelo Brasil lhe valeram o protagonismo nos últimos trechos da XIII Sessão da Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, realizada nas últimas duas semanas na ilha indonésia de Bali.
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Envolverde/ IPS, 17/12/2007)