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desmatamento da amazônia
2007-12-18
O Brasil aproveitou o cenário da conferência climática de Bali, na Indonésia, para anunciar a implementação de um fundo voluntário para proteger a Amazônia e sua decisão de adotar metas nacionais de redução do desmatamento. O Fundo para a Proteção e Conservação da Amazônia brasileira será voluntário e poder estar pronto na primeira metade de 2008 com uma base inicial deUS$ 150 milhões, que serão operados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento. Cerca de US$ 100 milhões seriam entregues pela Noruega.

O fundo será administrado por um conselho consultivo e integrado por representantes dos governos federal e estaduais, de organizações não-governamentais, dos cientistas nacionais e estrangeiros e de empresas. O desmatamento e os incêndios florestais respondem por quase 75% dos gases causadores do efeito estufa emitidos pelo Brasil. Mas, nos últimos três anos o País conseguiu reduzir em 59% a perda de florestas. Segundo disse à imprensa a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, isso equivale a “500 milhões de toneladas a menos de carbono”, o principal desses gases. “Estamos dispostos a seguir metas internas e passiveis de controle” para o desmatamento, acrescentou.

Em troca de contribuições voluntárias para o fundo, Brasília entregará diplomas certificando a redução de emissões de gases que causam o aquecimento da atmosfera, equivalentes a cada doação. Mas, ao contrário de um fundo lançado esta semana pelo Banco Mundial para evitar a destruição de selvas nos países em desenvolvimento. Os papéis que forem emitidos pelo governo brasileiro não poderão ser comercializados nos mercados de carbono. Não existindo o incentivo financeiro, Brasília acredita atrair empresas interessadas em vincular sua imagem ao combate da contaminação do clima.

Com o rei da soja

A ministra fez os anúncios acompanhada do governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, um empresário que no passado foi considerado um destruidor da floresta e agora transformado em protagonista do combate à destruição das florestas amazônicas. Marina Silva disse que a redução da área amazônica desmatada foi possível graças aos esforços do Mato Grosso, que nos últimos três anos reduziu em 79% a destruição de suas florestas.

Maggi participou, junto com a ministra, do lançamento de um acordo para criar o Plano Estatal de Prevenção e Controle do Desmatamento. Pouco depois, esteve em um debate junto com o especialista Daniel Nepstad sobre custos e benefícios que seriam obtidos com o fim da destruição da floresta. Nepstad é autor do estudo “Os círculos viciosos da Amazônia”, publicado pelo Fundo Mundial para a natureza (WWF), e nos últimos 21 anos analisou o impacto dos incêndios florestais, a “savanização” dessa selva, as políticas públicas e as tendências futuras da região e sua população. A presença de Maggi “aqui é um bom começo”, disse Nepstad à IPS.

Há dois anos, a organização Greenpeace concedeu a Maggi o antiprêmio “A motosserra de ouro” por considerá-lo um dos indivíduos que mais contribuíam para a destruição da Amazônia. O governador é o maior produtor individual de soja e sua empresa responde por 5% da colheita brasileira anual dessa oleaginosa, sucesso este atribuído ao corte maciço de floresta. “Por isso estou céptica, embora reconheça que se veio até Bali é porque tem disposição ao diálogo”, disse à IPS Julina Radler, jornalista da Sumaúma Documentários, do Rio de Janeiro.

Durante sua exposição Maggi disse que o próximo passo é o governo federal pagar os Estados para que invistam na conservação da floresta. A execução do programa beneficiaria os produtores agrícolas e garantiria a conservação das reservas naturais, disse. “Essa questão da mudança climática é como a Santíssima Trindade, na qual há um Pai, um filho e o Espírito Santo, e o carbono é como o Espírito Santo, que ninguém vê, mas todos sabem que existe”, brincou o governador.

O professor Yadvinder Malhi, estudiosos dos ecossistemas tropicais da Universidade de Oxford, viu com otimismo o exemplo de Maggi, porque “é uma oportunidade para compreender a vulnerabilidade da reserva de Mato Grosso e sua importância no equilíbrio mundial”, afirmou. Os anúncios feitos pelo Brasil lhe valeram o protagonismo nos últimos trechos da XIII Sessão da Conferência das Partes da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, realizada nas últimas duas semanas na ilha indonésia de Bali.

(Envolverde/ IPS, 17/12/2007)





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