O acordo para retomada dos investimentos da Petrobras em novas áreas de exploração de gás natural na Bolívia foi divulgado com duas horas de atraso, após intensa negociação. Estava em jogo, acima de tudo, a forma de abastecer o mercado boliviano.
"A luta é o preço no mercado interno", afirmou o ministro boliviano de Minas e Energia, Nelson Hubner, em conversa com jornalistas.
Ao final, chegou-se ao seguinte acordo. Para as extrações futuras de gás, o consórcio formado entre Petrobras e YPFB, a estatal boliviana, será obrigado a vender 18% internamente, o que implica receber US$ 1 dólar por milhão de BTU (unidade de medida usada para o gás natural), valor inferior ao praticado no mercado internacional.
Pelo restante, poderá ser cobrado mais. Sobre o que a Petrobras produz atualmente, essa já é a porcentagem destinada ao mercado interno. Mas há expectativa de aumento da demanda, por isso era importante impor o limite.
"A tendência é aumentar o mercado interno, eles estão construindo gasodutos", explicou o ministro. Segundo Hubner, não era esperado tanta discussão na última hora. "[O acordo] estava mais do que adiantado, a Petrobras ficou a semana inteira aqui", disse.
Além das conversas de hoje, houve outra de quatro horas ontem, que se estendeu até a meia-noite, logo após a chegada da delegação brasileira a La Paz.
Dos três campos a serem explorados, dois (San Antonio e San Alberto) ficam no departamento (estado) de Tarija, um dos quatro que declararam autonomia em relação ao governo central neste fim de semana. O movimento pela autonomia está provocando uma cisão no país.
Está previsto para março o referendo revogatório, aprovado hoje pelos deputados bolivianos, no qual a população vai decidir se o presidente Evo Morales e os nove prefeitos departamentais (governadores) ficam ou não no cargo.
O ministro Hubner avalia que isso não é motivo para amedrontar a Petrobras. Se estabilidade fosse pré-requisito, disse ele, não haveria tantos investimentos nos poços de petróleo da "Nigéria, Arábia Saudita, Irã e Iraque".
(Por Julio Cruz Neto, Agência Brasil, 17/12/2007)