Greenpeace teve acesso ao rascunho do documento final que está sendo negociado na Conferência da ONU sobre o Clima e nele as conclusões do IPCC ganharam apenas notas de rodapé. O mesmo IPCC que conquistou recentemente o prêmio Nobel da Paz, por apontar evidências inequívocas da ação humana no aquecimento global e reforçar a necessidade de se reduzir imediatamente as emissões de gases do efeito estufa, foi menosprezado até o momento pelos integrantes da Conferência da ONU sobre o Clima que acontece em Bali.
O Greenpeace teve acesso ao rascunho do documento final que estava em negociação e nele não há menção alguma sobre a necessidade e urgência de se reduzir as emissões de CO2, ignorando todas as evidências científicas dos impactos devastadores das mudanças climáticas apontadas pelo IPCC.
As negociações realizadas ao longo desta sexta-feira para estabelecer as regras do segundo período de compromisso do Protocolo de Kyoto terminaram sem consenso. A aprovação do documento será votada na manhã deste sábado, ficando sob a responsabilidade da presidência da Convenção do Clima a elaboração do texto final que será submetido à plenária.
Muitos dos pontos em negociação foram aprovados à tarde, entre eles, o de transferência de tecnologia e o de um fundo de adaptação. Porém, faltou um acordo no documento sobre redução de emissões provenientes de desmatamento, fundamental para o Brasil.
O principal fato gerador do impasse nas negociações é a adoção de metas de redução de emissões de gases de efeito-estufa proposta pela União Européia (entre 25 e 40%), algo que os Estados Unidos insistem em boicotar. Em contrapartida, a União Européia, representada pelo Ministro do Meio Ambiente da Alemanha, Sigmar Gabriel, afirmou que não irá comparecer na reunião dos grandes emissores, proposta por Bush, em janeiro, a não ser que haja significativos progressos em Bali.
O clima de discórdia piora quando Estados Unidos, conjuntamente com o Canadá, exigem que os países em desenvolvimento aceitem metas para que façam o mesmo. Para o Greenpeace, além de boicotar avanços nas negociações em Bali, os Estados Unidos estão ferindo o “princípio da responsabilidade comum, mas diferenciada” ao tentar transferir a responsabilidade para os países em desenvolvimento.
“O Secretário-Geral da ONU deve voltar a Bali para presidir a última sessão – a do fracasso ou do acordo”, afirmou Paulo Adario, coordenador da campanha da Amazônia do Greenpeace, que está em Bali. “Estamos muito preocupados com o teor do documento que será apresentado e votado amanhã. Nesta altura do campeonato, ainda não é possível declarar o fracasso da Conferência, porém nossa apreensão é inegável”, alertou.
“Não temos tempo a perder. A Conferência de Bali deve apontar diretrizes, processos e um cronograma de trabalho que possa contribuir de forma efetiva para o combate ao aquecimento global”, afirmou Marcelo Furtado, diretor de campanhas do Greenpeace no Brasil, direto de Bali. “Não consideramos o fracasso como uma opção. Além de não interessar a ninguém, o futuro do planeta depende de um bom resultado aqui em Bali.”
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Envolverde/Greenpeace, 17/12/2007)