A comunidade internacional conseguiu aprovar o "mapa do caminho de Bali" para lutar contra o aquecimento global, mas este é somente o início de um processo que deve durar anos e cujo êxito dependerá do resultado das próximas eleições presidenciais nos Estados Unidos.
O acordo feito no sábado estabelece que as negociações comecem em março ou abril de 2008 para culminar na Conferência sobre o Aquecimento Global de Copenhague, no final de 2009. O resultado desses dois anos de negociação deve ser a elaboração de um novo tratado que substitua o Protocolo de Kyoto, com término previsto para o fim de 2012.
O Mapa de Bali foi aprovado no limite diante da posição resistente dos Estados Unidos, que exigiam um compromisso maior de redução de emissão de gases-estufa por parte de grandes países emergentes, como China, Índia e Brasil. Imediatamente depois de sua aprovação, a Casa Branca expressou seu descontentamento. Isso mostra, segundo especialistas, que é preciso esperar até que os americanos elejam seu presidente, no final de 2008, para que o processo avance.
"Durante os debates eleitorais nos Estados Unidos, o aquecimento global certamente ocupa um lugar relevante, com a vantagem de que seus cidadãos possuem um conhecimento cada vez maior e mais responsável sobre o assunto", afirma Pablo Cotarelo, da ONG espanhola Ecologistas em Ação.
Os países europeus e em desenvolvimento, que em Bali se aliaram contra a postura americana, têm agora a esperança de que o próximo inquilino da Casa Branca volte a colocar os Estados Unidos no caminho definido por Bill Clinton e ignorado por George W. Bush.
"É evidente que o conjunto dos cidadãos americanos tem mudado sua posição de forma marcante a respeito do aquecimento global", afirmou a ministra do Meio Ambiente espanhola, Cristina Narbona, lembrando que 23 Estados americanos estão comprometidos com a redução de CO2, numa postura contrária à do governo federal.
MAIOR SENSIBILIZAÇÃOCatástrofes climáticas, como o furacão Katrina, os incêndios gigantescos na Califórnia e as secas pronunciadas no Oriente Médio, contribuíram para essa maior sensibilização. "Esses desastres mostraram a dor de ser vítima do aquecimento global, que ocorre principalmente nos países em desenvolvimento", afirma Marcelo Furtado, diretor de campanhas do Greenpeace Brasil. Quando o Katrina arrasou New Orleans, "houve gente que perdeu sua casa, sua terra, sua família, que perdeu seu passado e seu futuro, e isso fez com que começassem a compreender que o aquecimento global é um problema para o mundo todo e que temos de trabalhar juntos", acrescenta Furtado.
No entanto, supondo que o próximo presidente esteja decidido a combater o aquecimento global, especialistas lembram que não assumirá o cargo antes do final de janeiro de 2009. O que significa que terá poucos meses para preparar sua equipe e sua estratégia para ganhar o apoio da opinião pública a tempo de envolver ativamente seu país em Copenhague.
Enquanto isso, é fundamental que o processo continue sem os Estados Unidos, afirmam especialistas. "Deve-se avançar independentemente do que diga a administração Bush", avalia Cotarelo, que pede "que os países com posições ambiciosas sigam adiante sem esperar o consentimento dos americanos porque, se o processo é sólido, cedo ou tarde eles acabarão por aceitá-lo".
Mas resta ainda outra incógnita: saber se as grandes economias emergentes, que tendem a se converter nos maiores contaminadores do mundo, estarão dispostas em 2009 a dar o braço a torcer aceitando o compromisso de cortar emissões de gases do efeito estufa.
"A maior das batalhas acontecerá em 2009, esta (a 13ª Conferência do Clima) foi apenas um entretenimento", diz Fernando Tudela, subsecretário mexicano do Meio Ambiente.
(
O Estado de São Paulo, 17/12/2007)