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termelétricas a carvão passivos dos biocombustíveis transposição do são francisco
2007-12-17
Na segunda parte da entrevista concedida a Adital, João Alfredo, consultor do Greenpeace, discorre sobre a política de biocombustíveis e as conseqüências que a implantação de usinas termelétricas no Complexo Industrial do Pecém pode trazer para a comunidade local. A 13ª Conferência das Partes sobre o Clima (COP-13) e o agronegócio também são temas comentados.

ADITAL - Que impactos socioambientais os biocombustíveis pode trazer?
João Alfredo - Como diz o Greenpeace, os biocombustíveis (que seriam designados, de forma mais precisa, como agrocombustíveis) são parte do problema e parte da solução. Evidentemente, que o etanol (álcool combustível) da cana-de-açúcar e biodiesel são bem menos poluentes do que os derivados do petróleo, emitindo, portanto, menos gases de efeito estufa para a atmosfera.

O problema é quando não se toca no fundo da questão, que diz respeito à diminuição do atual padrão de consumo e da necessidade de se valorizar tanto o transporte público, como meios não poluentes, como a bicicleta. Nesse sentido, podemos ver uma diferença entre o álcool - voltado para o veículo individual - e o biodiesel - direcionado para o transporte coletivo.

Portanto, não basta substituir os combustíveis fósseis (gasolina e diesel) pelos agrocombustíveis, mantendo o atual padrão voltado para o transporte individual. Isso porque, com a demanda cada vez mais crescente, nós veremos tanto a substituição de plantios de produtos alimentícios (que se tornariam mais caros), como uma pressão enorme sobre as nossas áreas de floresta.

A cana, plantada majoritariamente no centro-sul, poderia (e, em alguma medida, isso já está ocorrendo) empurrar o gado e a soja ainda mais para dentro da Amazônia. Isto para não falar do acréscimo do desmatamento no cerrado, região onde estão abundando os plantios e as usinas de cana-de-açúcar.

ADITAL- Em artigo publicado no jornal O Povo (12/09/07), o senhor compara os acontecimentos no Pecém-CE a Cubatão-SP, ao mencionar a implantação de uma usina termelétrica, movida a carvão mineral, no complexo industrial do Pecém. Que impactos ambientais esse empreendimento pode causar?
João Alfredo - Hoje não é mais uma termelétrica. São duas: uma do Eike Batista (que foi recentemente expulso da Bolívia e se instalou nas proximidades do pantanal matogrossense) e outra da Vale do Rio Doce e agora a própria siderúrgica - também da Vale -, que também será movida a carvão mineral. Por isso, a comparação com Cubatão não é despropositada, pois aquela cidade paulista se transformou no símbolo dos impactos da poluição no Brasil - inclusive com o nascimento de bebês com anencefalia - dada a quantidade de indústrias poluentes que ali se instalaram na década de 70.

Mas, poderíamos falar também na região de Santa Catarina, no entorno de Criciúma, onde sua população sofre os males do carvão mineral, tanto pela mineração, como pela queima em indústrias. Ou mesmo da Região Metropolitana de Vitória, capital do Espírito Santo, onde a Vale e outras siderúrgicas jogam seus poluentes na atmosfera, causando graves danos à saúde daquela população.

O que ocorre é que o combustível com maior potencial de poluição é o carvão, que é carbono em estado quase puro. Ele é o maior responsável pelo aquecimento global (com uma percentagem de mais de 40% dos gases de efeito estufa). Para se ter uma idéia, uma tonelada de carvão queimada, emite quase quatro de dióxido de carbono (CO2), além de CO, enxofre, material particulado etc. Tudo isso, tem um impacto tremendo sobre o solo, a água, a fauna, a flora e, em especial, a saúde humana, do ponto de vista de doenças do aparelho respiratório, cancerígenas etc.

ADITAL - Qual a sua avaliação sobre a participação do Brasil na 13ª Conferência das Partes sobre o Clima (COP-13), promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU)?
 João Alfredo - O Brasil, que já foi vanguarda na luta ambiental, se encontra hoje na defensiva. Isto porque, com as queimadas e desmatamento de nossas florestas, em especial, a Amazônia, é o quarto maior emissor de gases do efeito estufa. Há uma luta para que o Brasil - e outros países em desenvolvimento - assumam metas de redução dessas emissões.

Evidentemente, que a maior redução tem que se dar através dos países desenvolvidos, mas os demais países também têm que dar sua cota. O problema é que isso significaria enfrentar o agronegócio da soja e do boi na Amazônia e descartar as propostas de termelétricas constantes do PAC (Plano de Aceleração do Crescimento). Por isso, o governo brasileiro tem resistido a assumir metas, pois isso significaria mudar o norte de sua política econômica, agrícola, energética e industrial.
 
ADITAL - A transposição do Rio São Francisco seria uma política de favorecimento ao agronegócio?
João Alfredo - A transposição do São Francisco está vinculada não somente ao agronegócio - em sua face de exportação de frutas e de criação de camarão em cativeiro (carcinicultura) - mas, também, na viabilização das atividades industrias no porto do Pecém. As atividades de geração de energia pelas indústrias térmicas e de fabricação do aço pela siderúrgica são altamente consumidoras de energia e, fundamentalmente, de água, para resfriar seus altos fornos.

Aqui é que vai se encontrar, para o Estado do Ceará, a justificativa da transposição. Sem a água do São Francisco - que deverá vir pelo canal da integração do Açude Castanhão até o Pecém - não se teria água no Ceará para esses empreendimentos. Portanto, dizer que a água do São Francisco vai acabar com o carro-pipa é balela. As áreas mais secas do Ceará - Inhamuns, Sertões de Canindé e Central, Zona Norte - não vão sentir sequer o "cheiro" da água, já que a água do rio entra pela Chapada do Araripe no Cariri, desemboca no Rio Salgado que é tributário do Jaguaribe, sendo, posteriormente, armazenada pelo Castanhão.

ADITAL - A agricultura familiar poderia ser um modelo alternativo economicamente viável em relação ao agronegócio?
 João Alfredo - Penso que a agricultura familiar camponesa - seja da pequena propriedade, seja das áreas de assentamento de reforma agrária, seja de comunidades tradicionais extrativistas - pode ser alternativa em relação ao agronegócio, desde que agregue, a um só tempo, um componente ecológico da agroecologia - com suas novas práticas, com a rejeição aos insumos químicos, e um componente socioeconômico do associativismo e cooperativismo coletivistas - que rejeita a apropriação privada e a formação de uma "nova classe" de "pequenos burgueses rurais". Trata-se de confrontar - na prática, na comparação de projetos - o que o agronegócio representa de mais destrutivo, tanto no aspecto social, como no ambiental: a monocultura, que destrói a biodiversidade; as relações sociais injustas, do trabalho infantil e escravo; a poluição do solo e das águas, pelos agrotóxicos; a concentração fundiária, dos grandes latifúndios.

(Adital, 14/12/2007)


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