Protesto completa 20 dias e d. Luiz Cappio está debilitadoO bispo de Barra, d. Luiz Cappio, que está há 20 dias sem se alimentar, negou pedido feito pelo representante do Vaticano, na semana passada, para que encerrasse a greve de fome em protesto contra as obras de transposição do Rio São Francisco.
Consideravelmente abatido e debilitado, frei Cappio recebeu na semana passada uma carta assinada pelo cardeal Giovanni Battista Ré, prefeito da Sagrada Congregação para os Bispos, que escolhe os bispos no mundo todo. Nela, o representante do Vaticano demonstra preocupação em relação à vida de frei Cappio e pede que ele se resguarde.
Num dos trechos, está escrito: "É necessário conservar a vida, dom de Deus, e a integridade da saúde. A continuação do jejum, já muito prolongado e radical, colocando em risco a própria sobrevivência, não é um meio aceitável e contradiz os princípios cristãos."
No documento, o cardeal alega que Cappio já contribuiu para sensibilizar a opinião pública e pede que ele retorne à sede diocesana da Barra, interrompendo "esse gesto extremo".
A assessoria de imprensa da Comissão Pastoral da Terra, que acompanha frei Cappio, informou que ele tomou a carta como um pedido e não se sente desobedecendo a vontade do papa Bento XVI.
Segundo teria afirmado Cappio, ele deve obediência ao papa e a carta representa apenas um pedido, que pode ser acatado ou não.
VIGÍLIADesde ontem, uma vigília se mantém em Salvador, colhendo assinaturas e chamando a atenção para o protesto solitário do religioso de Barra.
"O ponto alto será na segunda-feira (hoje), com uma celebração ecumênica na Praça da Piedade, ao mesmo tempo em que d. Luiz Cappio oficia missa também em Sobradinho", explica Marilda Ferri, assessora de O Pastoral que integra o movimento.
As obras da transposição do São Francisco, iniciadas em dois canteiros em Cabrobó(PE) estão ainda paralisadas, aguardando efeito suspensivo que derrube a liminar, concedida na segunda-feira passada, pelo desembargador Souza Prudente, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, contestada pelo governo federal.
O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, solicitou ao Ministério da Defesa que retire o Exército do local, para onde foram as tropas do 72º Batalhão de Infantaria de Petrolina (PE), que responde pela segurança da área.
Amanhã, último dia do ano para reunião do Supremo Tribunal Federal (STF), decisão oficial deve ser tomada sobre o caso.
(Alvaro Figueiredo e Ricardo Brandt,
O Estado de São Paulo, 17/12/2007)