"Estamos no caminho mais rápido e mais próximo para salvarmos a Amazônia do que sempre tivemos", afirmou Paulo Moutinho, ecólogo e coordenador de pesquisas do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) neste último dia da conferência de Mudanças Climáticas da ONU, em Bali, onde 11 mil pessoas estão reunidas para definir políticas globais de combate ao aquecimento.
O otimismo de Moutinho deve-se à inclusão do REDD (Reducing Emissions from Deforestation and Forest Degradation), um mecanismo que define o pagamento por redução nas emissões de CO2 nas florestas tropicais, na Convenção do Clima e no posterior período de compromissos que substituirá o Protocolo de Kyoto. O que foi definido em Bali é que nos próximos dois anos, os países discutirão novas metas e novos mecanismos de combate às emissões. Neste segundo período, que entrará em vigor em 2012, o REDD passará a vigorar como um instrumento legal da Convenção, assim como o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), para diminuição das emissões.
Trocando em miúdos: foi incluída definitivamente nas discussões de mudanças climáticas a necessidade de se proteger as florestas tropicais. Primeiro porque, hoje, através de suas queimadas e desmatamento, representam a segunda causa de emissões do mundo. Por isso, diz Moutinho, "o Brasil não agir para conter o desmatamento é comparável aos Estados Unidos não assinarem o Protocolo de Kyoto". Em seguida porque a floresta em pé é capaz de absorver carbono, interferir no clima (funcionando como um ar-condicionado natural), sem falar na enorme biodiversidade que abriga.
"Estamos vivendo um momento histórico para as florestas", ressaltou Andrew Mitchell, diretor da Ong Global Canopy Program (GCP) e professor da universidade de Oxford, em Bali. Para Mitchell, o que vivemos hoje é uma conscientização de que é necessário se atribuir um valor às florestas, já que esses ecossistemas prestam serviços essenciais à vida. "As florestas dão mais ao mundo do que o armazenamento de carbono", frisou Mitchell.
E é exatamente essa atribuição de valor às florestas que faz com que Moutinho acredite ser possível "salvar" a Amazônia. Para ele, os instrumentos de conservação da biodiversidade, como a criação das reservas legais, são frágeis e insuficientes para garantir a manutenção dos ecossistemas. Portanto, muito mais eficaz é crer em mecanismos de mercado que tenham compromissos a longo prazo com o financiamento para proteção da floresta, como os que estão sendo negociados na Convenção do Clima.
Até 2009, quando será realizada a Conferência do Clima em Copenhagem, na Dinamarca, precisam ser definidos os detalhes técnicos de como funcionará o REDD, incluindo a sua viabilidade econômica que hoje transita entre duas propostas: a primeira através de doações voluntárias de países industrializados com metas de redução de emissões e a segunda através de mecanismos do próprio mercado, por meio da compra de créditos de carbono.
Moutinho mostrou-se animado com a disposição do governo brasileiro nas negociações sobre floresta em Bali, incluindo o lançamento do Fundo que será gerido pelo BNDES e que receberá aporte de recursos para combate ao desmatamento na Amazônia. Ele destacou que a presença dos dois ministros, Celso Amorim (Relações Exteriores) e Marina Silva (Meio Ambiente) mostrou que o governo percebeu a grande oportunidade que se abre para que o Brasil tenha apoio internacional para preservar a Amazônia. "É preciso frisar que não estamos pedindo dinheiro por aí. Estamos sim buscando recursos em reconhecimento a um serviço que a Amazônia presta ao mundo", concluiu o pesquisador do IPAM.
(Por Juliana Radler, Nusa Dua/Bali, especial para a
Envolverde e Revista do Meio Ambiente, 17/12/2007)