Ministro, que teve carreira política construída a partir de pastorais da igreja, critica greve de fomeEm sua opinião, atitude de dom Luiz "não é um pressuposto razoável para uma relação de diálogo" e governo não deve ceder
Católico praticante, com sua carreira política construída a partir da igreja e de suas pastorais, o ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social) afirma que dom Luiz Cappio tem sido "intransigente" e que a linha de sua greve de fome é um extremo "inaceitável".
"É inaceitável ir ao extremo", disse o ministro. Patrus falou à Folha na quinta-feira, em seu gabinete. Antes, havia participado de uma missa ao lado de amigos da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
FOLHA - Como o sr. está acompanhando a greve de fome de dom Luiz Cappio?
PATRUS ANANIAS - Com orações. Tenho muito respeito pela posição de dom Luiz. Agora, discordo dele. Acho uma posição muito difícil, muito delicada. É quase que um inverso, é claro que pelo outro extremo: "Se você não fizer o que quero, te mato". É inaceitável ir ao extremo. Mas agora ele está colocando num outro extremo, o do automartírio. "Se não for feito o que eu quero, eu me mato". Com esse tipo de argumento, fica muito difícil conversar.
E ele fechou questão: tem que interromper a obra. Como cristão, católico, numa linha ecumênica, estou em estado permanente de oração e de vigília para que tudo se resolva da melhor maneira possível.
FOLHA - Dom Luiz tem sido intransigente?
PATRUS - Intransigente, nesse sentido, sim. "Faça o que quero, senão vou me matar" não é um pressuposto razoável para uma relação de diálogo, de entendimento. Ele nem sequer se dispõe a dialogar, ou seja, tem que haver a interrupção imediata das obras de transposição do rio. E acho que ele está equivocado neste aspecto.
FOLHA - O sr. é a favor da transposição?
PATRUS - Sou. É claro que uma transposição vinculada à revitalização.
FOLHA - Então, na opinião do senhor, o presidente não deve ceder à pressão da greve de fome?
PATRUS - De jeito nenhum. Agora, sem entrar no mérito, não quero julgar a intenção dele. Aí é ele e Deus. É ele e a consciência dele. Agora dificulta a conversa, quando você põe assim: "Se não fizer o que eu quero, não vou interromper o meu jejum". O presidente tem uma autoridade legítima e democrática que o povo deu a ele nas eleições de 2006. E ele está agindo rigorosamente dentro dos parâmetros legais e constitucionais. Os processos contra a transposição foram discutidos, batalhas judiciais foram vencidas.
FOLHA - E o que significa pra Igreja Católica uma situação como essa?
PATRUS - Pelo que sei, pela minha formação cristã, católica, a igreja é muito rigorosa com essas questões, inclusive com a eutanásia. A igreja não permite o auto-extermínio. A igreja não permite uma opção que, no limite, leve à morte, a não ser em situações muitíssimo especiais. Em condições normais, não só a Igreja Católica, mas a tradição cristã sempre se colocou rigorosamente a favor da vida.
FOLHA - O sr. compara ao suicídio?
PATRUS - Aí é da consciência de cada um. Certamente não quero entrar nos méritos de dom Luiz.
(Eduardo Scolese,
Folha de São Paulo, 17/12/2007)