A Subsecretaria de Defesa do Solo e da Água (Sudesa), do Governo do Distrito Federal (GDF), derrubou no sábado (15/12) 35 barracos de moradores do Cerrado do Jaburu e da Colina da Universidade de Brasília (UnB), no Plano Piloto.
A ação faz parte da Operação Brasília, intensificada no final de semana. Segundo o comandante da ação e chefe do Núcleo de Operações da Sudesa, capitão Eduardo Condi, o objetivo é tirar as pessoas da "condição insalubre em que vivem".
Além da derrubada dos barracos, foram recolhidos carroças e cavalos das famílias que vivem, principalmente, da coleta de material reciclado.
Para o morador do Cerrado do Jaburu Francisco Nunes da Silva, 26 anos de idade, depois da derrubada, só resta comprar "outro pedaço de lona" para fazer um novo barraco. O material para a nova moradia, segundo ele, sai por cerca de R$ 10.
Mas sem as carroças e os animais, ele diz que não há como trabalhar. “Tem dia que não tem nem comida, se não for a mulher para pedir. A carroça, o governo quebra e o animal, leva para o curral. Aí o cara vai trabalhar em quê? Ninguém vai roubar, porque aqui todo mundo só é pobre, mas ninguém nessa favela rouba, não.”
Maria Amélia da Conceição mora há 14 anos no local com seis filhos. Ela contou que a derrubada dos barracos acontece desde que foi para lá com a família. “Não é de hoje que eles vêm e derrubam tudo. Mas agora está pior”.
O capitão Condi informou que as pessoas já estão cadastradas pela Secretaria de Ação Social e já foram orientadas a buscar o auxílio-aluguel oferecido pelo GDF.
“As pessoas têm que ir até a secretaria fazer o preenchimento de toda a documentação para que elas recebam o equivalente a três meses de aluguel. Elas recebem isso para que realmente saiam daqui e tenham uma moradia digna”.
Segundo ele, o governo entende que três meses é um período suficiente para que as pessoas encontrem um trabalho ou arrumem um outro local para morar.
“O que não se pode fazer é pagar eternamente o aluguel. Por isso é que se estipulou o prazo de três meses. Para que essas pessoas saiam e não vivam nessas condições”, acrescentou.
Francisco Erismar, outro morador do local, tem oito filhos e diz que o GDF oferece como auxílio-aluguel R$ 180. Segundo ele, valor insuficiente para alugar alguma casa.
“Não tem ninguém que consegue alugar uma casa de um cômodo, dentro de uma vila aqui, por menos de R$ 300 ou R$ 400. Se tiver com dois ou três filhos eles não aceitam alugar de jeito nenhum. E os que têm menos filhos aqui, têm três”.
É o caso de Francisco Nunes. Sua mulher dará à luz a mais uma criança no próximo mês. Ele veio do Rio Grande do Norte há seis anos e diz que não tem mais para onde ir. “O último canto que tem pra gente morar é esse aqui, dentro desse cerrado velho aqui, com lixo e tudo”.
Segundo os moradores, vivem no local aproximadamente 35 famílias, com quase 100 crianças. Nunes contou que, depois da ação desta manhã, muitas delas não terão nem colchão para dormir esta noite.
“Quando eles não levam os colchões, enterram para ninguém poder pegar. Quando não é isso, juntam os colchões que estiverem secos, jogam gasolina e botam fogo. Esta semana, para o meu menino poder dormir, foi preciso pedir uma coberta, pois a que tinha foi levada. Eles dizem que querem limpar o cerrado. E já falaram que amanhã vêm derrubar de novo”.
Desde o início de novembro, já foram derrubados cerca de 200 barracos. Mas, segundo o capitão Condi, os moradores insistem em retornar ao local, por isso, outras medidas estão sendo tomadas.
Na última semana, segundo ele, três moradores do Cerrado do Jaburu foram presas por fazerem ligações clandestinas, os chamados “gatos”, para puxar energia elétrica para suas moradias.
(Por Danilo Macedo, Agência Brasil, 15/12/2007)