A Conferência de Bali indicou a dificuldade que a Organização das Nações Unidas (ONU) terá em estabelecer um protocolo e regras internacionais claras para reduzir a emissão de gases de efeito estufa. Esta é a conclusão do professor Paulo Artaxo, do Instituto de Física da USP e membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).
Ele, no entanto, considerou o fechamento de um acordo para definir o roteiro para as discussões em torno do documento que sucederá ao Protocolo de Kyoto como o começo de um processo de diálogos. “Na verdade, iniciou-se um processo de negociação internacional por uma redução de 30% a 50% nas concentrações de gases de efeito estufa. Esperamos que, em um ou dois anos, possamos ter um protocolo que dê seqüência ao Protocolo de Kyoto”, destacou.
O professor disse que, numa visão otimista, era esperada uma posição mais flexível dos Estados Unidos e negociações mais concretas sobre apoios financeiros internacionais para países em desenvolvimento, em particular na redução do desmatamento. Entretanto, Artaxo acredita que, depois das próximas eleições presidenciais americanas, o cenário deve mudar.
“Infelizmente, os Estados Unidos são o país mais importante que tenta frear o avanço nessas negociações, mas acreditamos que, com as próximas eleições americanas, esse quadro político mude e o país possa assumir seu papel na emissão de gases de efeito estufa”, disse.
A diminuição dos desmatamentos, estratégia apontada no acordo de Bali para conter o aquecimento global, requererá esforços financeiros, políticos e sociais dos países com florestas tropicais, como Brasil, Indonésia e diversos países africanos. Por isso, o professor diz ser importante um protocolo que incentive, inclusive financeiramente, essa redução. E disse a União Européia e outros organismos internacionais já apóiam essa idéia.
“Vários agentes financeiros internacionais, como o Banco Mundial, estão apoiando uma estratégia de desmatamento em nível global, dando o apoio financeiro a isso”, afirmou.
Segundo Artaxo, muitos governos estão sofrendo forte pressão popular para que implementem políticas de controle de emissão de gases de efeito estufa, como ocorreu na Austrália, que aderiu ao Protocolo de Quioto no início da Conferência de Bali. Para o professor, esse caminho provavelmente será seguido pelo próximo presidente dos Estados Unidos.
Apesar de achar que o Brasil poderia ter tido uma atuação mais incisiva na defesa de mecanismos para a redução do desmatamento, o professor avalia como positiva a participação do Brasil na conferência. “Encaro isso como sendo um processo de negociação que só teve início agora e que, certamente, vai se intensificar. O Brasil realmente apresentou uma posição proativa, o que não acontecia até o início deste ano”, concluiu.
(Por Danilo Macedo, Agência Brasil, 15/12/2007)