O engajamento ambiental levou 10 crianças da comunidade carente de Confisco, em Belo Horizonte (MG), a Montevidéu.
Elas foram escolhidas entre os alunos da rede municipal de ensino para participar do acampamento Mercocidades - atividade paralela à Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul.
O acampamento é promovido pela pela prefeitura de Montevidéu e pela rede Mercocidades, que reúne 181 municípios dos quatro países do Mercosul, além da Venezuela, do Chile, da Bolívia e do Peru.
Com idade entre 10 e 13 anos, os meninos e meninas nunca tinham saído de Belo Horizonte, não conheciam a praia e nunca tinham andado de avião.
São filhos de antigos moradores de vilas e favelas da capital mineira, que viviam acampados no centro da cidade até serem assentados pela prefeitura, em 1990.
Moram em casas construídas em regime de mutirão e estudam com outras crianças em situação de risco social na Escola Municipal Anne Frank, construída a partir de demanda da própria comunidade.
"A maioria das crianças é negra, de famílias chefiadas por mulheres. A escola sempre foi o centro da comunidade e tenta organizar projetos que contemplem esses meninos", explica a coordenadora pedagógica, Sandra Mara de Oliveira.
Segundo Miriam Oliveira, representante da Secretaria de Educação de Belo Horizonte e acompanhante do grupo, quando a secretaria recebeu o convite, buscou alguma uma escola que desenvolvesse algum projeto sobre um dos objetivos do milênio.
"Escolhemos os alunos pelo engajamento nos projetos e pelo desempenho".
Desde 2001, a Anne Frank promove a educação ambiental. Em 2003, se integrou ao projeto Manuelzão, da Universidade Federal de Minas Gerais, cujo objetivo é promover a revitalização da bacia do Rio das Velhas, incentivando a participação e o comprometimento da população e de governos dos 51 municípios da bacia.
Entre as atividades desenvolvidas, está o envolvimento da comunidade em defesa de uma nascente próxima à escola.
"Nossa primeira discussão foi só sobre o lixo, depois entramos com o elemento água. A partir de 2003, começamos a trabalhar com o projeto Manuelzão", conta Sandra Mara. "Com o projeto, dá para a criança perceber que não basta pensar em salvar a Amazônia. Ela tem que pensar o que pode faze para melhorar a questão ambiental na comunidade dela".
A experiência local serviu para conscientizar as crianças para um problema global.
"O mais importante é todo mundo se juntar para criar forças para acabar com a poluição. Os países juntos, governos e comunidade devem se unir contra a poluição", diz Jean Júnior dos Reis de Azevedo, de 11 anos de idade, um dos 10 alunos da Anne Frank selecionados.
Igor Ferreira de Pádua, também com 11 anos de idade, sabe que os presidentes dos países Mercosul estarão reunidos na mesma cidade que a criançada dentro de alguns dias. E gostaria que o meio ambiente estivesse em pauta.
"Acho que eles vão discutir sobre o futuro do mundo, mas eu também queria que os governantes participassem disso. Tem muitos que só pensam no dinheiro e não pensam no planeta. Antes do dinheiro, a gente tem que cuidar do mundo".
Além dos 10 estudantes da escola mineira, chegaram ontem (15) ao acampamento 10 alunos de oito escolas públicas de Santo André (SP). Eles foram selecionados em um concurso de redação que teve como tema integração e Mercosul.
(Por Mylena Fiori, Agência Brasil, 16/12/2007)