Apesar de concentrar mais de 150 línguas indígenas distintas em seu território, a Amazônia ainda precisa fortalecer o estudo dessas línguas para desenvolver educação indígena nas escolas e contribuir para a preservação cultural desses povos. Para melhorar a documentação das línguas indígenas, um grupo de pesquisadores do Brasil e do exterior pretende articular um programa conjunto de pesquisas para capacitar estudantes e promover a troca de informações entre os estudiosos.
A parceria foi acertada no início do mês, numa conferência em Manaus que reuniu especialistas do Brasil e do exterior. O encontro foi organizado pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
Um dos objetivos do encontro foi estreitar e fortalecer a cooperação internacional entre as cinco instituições participantes que trabalham com a lingüística indígena: Ufam, Inpa, Universidade Livre de Amsterdã, Leiden Universiteit (Holanda) e o Centre d'Études des Langues Indigènes d'Amerique, vinculado ao Centro Nacional de Pesquisas da França.
De acordo com o professor do departamento de Antropologia da Ufam, Frantomé Pacheco, a documentação das línguas indígenas é importante porque muitas delas têm pouquíssimos falantes – algumas com pouco mais de dez – e estão ameaçadas de extinção, apesar da presença desses falantes na zona urbana de Manaus.
"Manaus é uma cidade multilíngüe por causa do alto número de falantes indígenas que aqui vivem. Diante desse quadro, que também se repete na região amazônica, queremos fortalecer as investigações lingüísticas porque muitas dessas línguas estão desaparecendo”, argumenta Pacheco. É preciso chamar a atenção de estudantes e professores para o registro dessas línguas", afirma.
Segundo Pacheco, o estudo e a documentação dessas línguas deve incluir aspectos fonológicos, gramaticais e discursivos. Para ele, a pesquisa acadêmica resultará no reforço da identidade cultural das populações indígenas, por meio da formação de professores que poderão criar um programa de revitalização dessas línguas.
"Sabendo como os elementos das línguas são usados, as pessoas poderão entender e interagir nas relações sociais. Isso poderá ajudar no fortalecimento dessas línguas e das culturas desses povos que as falam", avalia.
O evento teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e do Ministério das Relações Exteriores da França e do Instituto Nacional das Línguas Orientais (Inalco).
(Por Amanda Mota, Agência Brasil, 16/12/2007)