A Organização das Nações Unidas anunciou ontem que vai unir-se aos esforços internacionais para conseguir um “clima neutro”, isto é, enfrentando na atmosfera os gases causadores do efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento da Terra. Esta iniciativa é apoiada por 20 agências, fundos e programas da ONU, e contam com o apoio do seu secretário-geral, Ban Ki-moon.
A neutralização dos gases pode ser obtida mediante programas ambientais diversos, como plantar determinada quantidade de árvores para equilibrar as emissões de dióxido de carbono (CO²). As árvores transformam o CO² em açúcar a oxigênio através da fotossíntese. A ONU calcula que a emissão desses gases causadas pelas viagens a e desde Nusa Dua, na tropical ilha de Bali, na Indonésia, onde acontece até amanhã a conferência da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, representam cerca de 3.370 toneladas de dióxido de carbono. Neutralizar isso na atmosfera custará US$ 100 mil, segundo a ONU.
“Para demonstrar liderança e ações práticas de apoio às nações em desenvolvimento, bem como a urgente necessidade de enfrentar o aquecimento planetário, os organismos das Nações Unidas acordaram investir em créditos para o fundo de adaptação do Protocolo de Kyoto”, disse à IPS o diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), Achim Steiner. “Neutralizar as emissões apoiando o fundo de adaptação, que se espera entre em operação brevemente, é um claro sinal de que as economias que demonstraram ser vulneráveis ao clima passaram ao topo da agenda da ONU em 2007”, acrescentou.
Sob a liderança de Ban Ki-moon, todo o sistema da ONU se comprometeu a trabalhar por um clima neutro, não apenas em Bali, mas em todos escritórios e em todas as operações no mundo e para sempre. “De fato, posso anunciar hoje que o Pnuma estará entre os principais incentivadores e se converterá em uma agência de clima neutro no próximo mês”, afirmou Steiner aos jornalistas. O diretor do Pnuma disse à IPS que a decisão das Nações Unidas foi tomada “quando Costa Rica, Nova Zelândia e Noruega apresentaram algumas das pioneiras estratégias e planos” que desenvolvem para conseguir a neutralidade climática em suas respectivas jurisdições.
O chefe da delegação costarriquenha em Bali, Paulo Manso, disse que seu país tem o problema do aquecimento global no topo de sua agenda, pois considera que uma economia de clima neutro também é mais competitiva. O objetivo é conseguir a neutralidade climática até 2021, coincidindo com a comemoração dos 200 anos de independência da Costa Rica. A estratégia desse país se baseia na aplicação de impostos aos combustíveis fósseis em 1996. Dos recursos coletados, 3,5% vão para o Fundo Nacional de Financiamento Florestal, explicou Manso à IPS.
Isso, junto a outros tipos de apoios financeiros, como empréstimos e subvenções, é parte de um apoio a programas ambientais que beneficiam proprietários de terras que fazem plantações para absorver CO². O programa costarriquenho incluirá o apoio à Campanha de Um Bilhão de Árvores, do Pnuma e do Centro Mundial Agroflorestal. Este ano, a Costa Rica plantou mais de cinco milhões de árvores (1,25 por pessoa), a maior taxa por habitante do planeta. Outros elementos da estratégia são incrementar a porcentagem de geração de energia renovável a 90% do total e adotar métodos para uma maior eficiência do uso energético, como eletrodomésticos mais econômicos.
O uso de biocombustíveis e de veículos elétricos híbridos também são parte do plano, bem como a captura e o uso como combustível do metano dos lixões e da água contaminada nas unidades de tratamento. A decisão de buscar um clima neutro foi adotada pelo próprio presidente Oscar Arias como parte de uma nova iniciativa chamada Paz com a Natureza. Esta iniciativa “honra o enfoque ético, humano, social, ambiental e econômico que a Costa Rica tem sobre o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável”, afirmou Manos.
(Por Ramesh Jaura,
IPS, 13/12/2007)