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geração de energia
2007-12-17
Aparentemente, esta parece ser uma amostra comum do fundo do oceano obtida por perfuração. A sua superfície cintilante de um verde acinzentado é ao mesmo tempo lisa e granulada. Mas a amostra só revelou o seu empolgante segredo quando os geólogos a bordo do navio de prospecção geológica "Bavenit" reduziram a pressão no tubo de aço e acenderam um fósforo em uma das suas extremidades. De repente uma chama vermelho amarelada brotou do material escorregadio.

"Um fenômeno surpreendente", observaram os cientistas do Instituto de Pesquisas Geológicas Marítimas Guangzhou. Na verdade, tão surpreendente que, quando o navio ancorou no porto de Shenzen, em 12 de junho deste ano, os cientistas eram só sorrisos. Shengxiong Yang e Nengyou Wu, os dois líderes da expedição, contam com uma excelente chance de passar para a história do seu país como heróis. O material que eles retiraram do fundo lamacento do Mar do Sul da China tem o potencial para satisfazer às necessidades energéticas da China e à sua economia de crescimento acelerado.

As chamas presenciadas na amostra eram oriundas do hidrato de metano, que foi descoberto na década de 1970. A sua característica ímpar é o fato de ele ser um material aparentemente congelado e, no entanto, inflamável. No Ocidente, esse combustível potencial existente no fundo dos oceanos tem sido visto, freqüentemente, como uma idéia fantasiosa. Mas na Ásia a história é diferente. A República Popular da China está investindo milhões no estudo desta fonte maciça de energia. E o mesmo ocorre na Índia, na Coréia do Sul e em Taiwan, países que estão em uma rota rápida para superar o Ocidente como potências econômicas.

Esses países - e especialmente a China, que produz um terço do aço e do alumínio e metade do cimento do mundo - estão desempenhando um papel fundamental na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, à qual atualmente comparecem cerca de 10 mil delegados na ilha indonésia de Bali. As necessidades dessas economias emergentes continuam aumentando. A cada ano a China experimenta um aumento do consumo energético equivalente à produção total anual de energia na França. Até o final de 2007, o país, com a sua população de 1,3 bilhão de habitantes, terá superado os Estados Unidos como o maior produtor mundial de gases causadores do efeito estufa.

Uma das ironias do Protocolo de Kyoto é o fato de a China ainda ser tratada como um país em desenvolvimento, o que significa que, pelo menos sob o ponto de vista legal, ela não está obrigada a prestar qualquer atenção às questões relativas à proteção climática. No entanto, a China e as outras superpotências econômicas em formação não mais gozarão desse status segundo um acordo que sucederá o Protocolo de Kyoto, e ao qual os delegados em Bali pretendem dar início.

O governo chinês está seguindo uma estratégia dupla. Por um lado, ele manifesta grande preocupação com a mudança climática. Os observadores ficaram surpresos ao constatar que o primeiro-ministro Wen Jiabao usou os termos "meio ambiente", "poluição" e "proteção ambiental" 48 vezes no seu discurso ao Congresso Nacional Popular neste ano, Ele disse que a China não repetirá o erro de "poluir primeiro e limpar depois".

Porém, ao mesmo tempo, a China está buscando freneticamente novas maneiras de satisfazer a sua demanda voraz por mais energia. E as autoridades chinesas têm depositado as suas esperanças no hidrato de metano como uma dessas alternativas. O metano, aprisionado em espécies de gaiolas congeladas de moléculas de água, é encontrado na permafrost (camada de terra congelada encontrada nas regiões de latitude alta) e, em quantidades ainda maiores, sob o fundo do mar. O hidrato de metano é criado apenas sob condições específicas de pressão e temperatura. Essas condições são especialmente predominantes no oceano ao longo das plataformas continentais, bem como nas águas profundas de mares semi-fechados.

As reservas mundiais desse gás preso em cristais de água congelada são enormes. Os geólogos calculam que existe uma quantidade significativamente maior de hidrocarbonetos na forma de hidrato de metano do que em todas as reservas de carvão, gás natural e petróleo combinadas. "Há simplesmente uma quantidade muito grande desse material para que ele seja ignorado", afirma o especialista Gerhard Bohrman, do Centro de Pesquisas de Margens Oceânicas, na cidade de Bremen, no norte da Alemanha.

Alguns meses atrás, o premiê chinês Wen Jiabao segurou o material nas mãos - ou melhor, em um recipiente metálico -, enquanto este emitia chamas. Na época ele estava visitando um centro australiano de pesquisas, mas agora Jiabao pode observar com a mesma facilidade esse espetáculo nos laboratórios de pesquisa chineses.

Os pesquisadores chineses encontraram o hidrato de metano, também conhecido como cristal de gás, devido à sua estrutura molecular, em uma camada de sedimentos de 15 a 20 metros de espessura ao largo da costa chinesa. "Ele estava incrustado em argila e lama", diz John Roberts, cuja firma, a Geotek, forneceu equipamentos tecnológicos para a expedição de sondagem.

Esse é o tipo de informação que as companhias de gás natural gostam de ouvir. A porosidade da mistura de sedimentos é bastante propícia à perfuração para a extração do gás. "O hidrato do gás nunca foi encontrado antes desta forma", explica Roberts. De repente passou a ser concebível que a produção com o uso das técnicas convencionais tenha resultado.

Um possível método envolveria o uso de tubos de perfuração que conduziriam fluido aquecido até as reservas geladas. Isso dissolveria a gaiola de gelo que aprisiona o metano. O próximo passo seria capturar o gás por meio de uma segunda perfuração.

Foram esses tipos de perspectivas que inspiraram outros países a tentar imitar o sucesso dos pesquisadores chineses. O Japão construiu o maior navio de pesquisa de hidrocarbonetos marinhos do mundo, o Chikyu, com o principal objetivo de estudar o hidrato de metano. E a Índia investiu 200 milhões de euros no lançamento de um grande programa nacional - tendo já anunciado sucessos.

Os pesquisadores indianos descobriram uma camada de hidrato de metano de 132 metros de espessura na Bacia de Krishna-Godavari. "Essa é uma das reservas mais espessas já encontradas em todo o mundo", afirma Malcolm Lall, diretor do programa indiano de hidrato de gás. A equipe também foi bem-sucedida nas Ilhas Andaman, onde encontraram, 600 metros abaixo do fundo do mar, uma camada de metano congelada incrustada em sedimentos de cinzas gerados por erupções vulcânicas pré-históricas. "Essa descoberta também foi pioneira", afirma Lall.

Mas muitos cientistas vêem nas chamas que tremulam das amostras nos laboratórios indianos e chineses um sinal de alerta. Eles temem que um dia o metano do fundo do mar aqueça o clima global muito mais do que fazem hoje o carvão, o petróleo e o gás natural. É exatamente isso o que os cientistas do Instituto de Pesquisa Marinha (Geomar), no porto de Kiel, no norte da Alemanha, desejam evitar. Eles esperam ser capazes de transformar uma potencial maldição em uma bênção antes que seja muito tarde. Os cientistas visualizam um método segundo o qual o gás poderia ser extraído dos sedimentos com o auxílio do dióxido de carbono.

"O dióxido de carbono poderia ser obtido a partir dos gases emitidos pelas usinas termoelétricas movidas a carvão, por exemplo", afirma Klaus Wallmann, diretor do projeto conhecido como SUGAR, que foi criado recentemente para o estudo dessa questão. O que ele propõe soa quase muito bom para ser verdade: produzir combustível e, ao mesmo tempo, seqüestrar os gases causadores do efeito estufa, aprisionando-os abaixo do fundo do mar - eliminando as carências de energia e simultaneamente freando o aquecimento global.

Wallmann e os seus colegas baseiam as suas teorias em uma reação que os cientistas observaram mais de uma década atrás. Quando uma determinada pressão é aplicada sobre uma estrutura de cristal de gelo em forma de gaiola, o dióxido de carbono penetra na camada de gelo e desloca o metano. A seguir, uma nova gaiola de moléculas de água congelada forma-se em torno do dióxido de carbono. "Esse comportamento já foi demonstrado em experiências de laboratório", explica Wallmann.

Ele ficou impressionado com a relação da troca dos gases. Para cada molécula de metano dissolvida, até cinco moléculas de dióxido de carbono desaparecem na gaiola molecular de gelo. "Além disso, o gelo encapsula o gás carbônico de uma maneira mais estável do que ocorre com o metano. Não consigo imaginar uma maneira melhor de seqüestrar dióxido de carbono", explica Wallmann, acrescentando: "Estamos seguindo esta abordagem com grande interesse". Companhias industriais alemãs como a BASF, a Ruhrgas e a E.on também estão interessadas, e têm fornecido dinheiro e tecnologia para promover o estudo da técnica de seqüestro de gás carbônico. "É mais difícil convencer os políticos de que esta é uma boa idéia", diz Wallmann.

Segundo Wallmann, as pesquisas relativas ao uso de energias renováveis para evitar o aquecimento global são encaradas com entusiasmo, mas pouquíssimos políticos estão interessados nos estudos sobre seqüestro de carbono. "Estas pesquisas são vistas como uma tentativa desesperada de salvar a era do combustível fóssil do seu fim", afirma Wallmann com um suspiro. Mas ele acrescenta que a humanidade mais cedo ou mais tarde não terá escolha a não ser seqüestrar os gases causadores do efeito estufa.

Wallmann teme que o tópico seja completamente ignorado na conferência de Bali, que ele considera ingênua e irresponsável. "O que está ocorrendo na China e na Índia joga as negociações sobre o clima no reino do absurdo". De fato, as autoridades de Nova Déli e de Pequim esperam que os seus geólogos apresentem resultados que permitam à China e à Índia dar início à mineração sistemática do hidrato de metano na próxima década.

Já os pesquisadores alemães esperam até lá ter aperfeiçoado totalmente o seu método. Wallmann visualiza, em um futuro não muito distante, navios-tanques carregados de gás carbônico seguindo para o alto-mar a fim de bombear as suas cargas prejudiciais ao clima para as profundezas abissais.

Naturalmente, até mesmo Wallmann sabe que esta é uma idéia altamente otimista. Isso ajuda a explicar a falta de entusiasmo por parte dos cientistas chineses e indianos que ele encontra nas conferências sobre uma tecnologia que ainda se encontra distante do desenvolvimento completo. "Eles têm medo de que o Ocidente queira impedí-los de extrair rapidamente o hidrato de metano".

(Por Gerald Traufetter, Der Spiegel, tradução UOL, 14/12/2007)



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