Faltando apenas duas semanas para terminar, mas este ano deverá ser o segundo mais quente no hemisfério norte do planeta desde 1850, isto é, desde que se faz o registro direto de temperaturas. Só foi superado por 1998, segundo os dados apresentados por duas prestigiosas instituições mundiais de pesquisa climática, o centro Hadley e a Universidade de East Anglia, ambas britânicas.
Com os dados de temperatura de janeiro a novembro, em média mundial, 2007 será o sétimo ano mais quente, enquanto no hemisfério sul as temperaturas não subiram tanto. Concretamente, faltando o último mês, este ano o hemisfério norte está 0,63°C acima da média da temperatura entre 1961 e 1990 (14°C). Em 1998 foram registrados 0,66°C acima da média e em 2005, 0,64°C. O aquecimento de 2007 (até novembro) de todo o planeta é de 0,41°.
A Organização Mundial de Meteorologia (OMM) também apresentou ontem esses dados na cúpula sobre o clima em Bali, reforçados pelos resultados de outra instituição de referência mundial quanto a registros climáticos: a NOAA americana, segundo a qual 2007 pode muito bem ficar em quinto, e não em sétimo, lugar na classificação mundial de altas temperaturas.
Mais alto ou mais baixo, as duas instituições britânicas assim como a OMM destacaram ontem que "os 11 anos mais quentes desde 1850 foram registrados nos últimos 13 anos". Os cientistas britânicos ressaltaram também que o forte crescimento deste ano ocorre apesar do efeito de resfriamento que representa o fenômeno oceanográfico La Niña em ação no Oceano Pacífico.
Outro indicador importante do aquecimento acelerado do planeta registrado este ano é a fusão do gelo no Ártico. No final do verão a extensão de mar gelado era de 4,28 milhões de quilômetros quadrados, a menor de que se tem registro. A extensão gelada no Ártico era há três meses 39% inferior à média de 1979 a 2000, e 23% menor em relação ao recorde anterior, estabelecido há dois anos, em setembro de 2005. Nessas condições, e pela primeira vez desde que se tem registro, neste verão não foi bloqueado pelo gelo a Passagem Canadense do Noroeste, que foi navegável durante cinco semanas a partir de 11 de agosto.
A superfície gelada do Ártico diminui aproximadamente 10% por década (cerca de 72 mil quilômetros quadrados por ano) desde 1979. Enquanto isso, o nível do oceano mundial continua aumentando e as medições de 2007 indicam que a média mundial está 20 cm acima do nível estimado em 1870. A cada ano o mar sobe 1,7 mm.
Os responsáveis da OMM destacaram ontem o aquecimento nas últimas décadas, como se lê no último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC na sigla em inglês). "Desde o início do século 20 a temperatura média global da superfície da Terra aumentou 0,74°C, mas esse aumento não foi contínuo, já que o aumento da temperatura nos últimos 50 anos (0,13°C por década) é quase o dobro do registrado em cem anos."
As temperaturas deste ano estão tão próximas do máximo medido na história que em alguns casos 2007 marca um recorde: o mês de janeiro passado foi o mais quente, com temperaturas médias globais de 12,7°C, em comparação com 12,1°C em média entre 1961 e 1990. Em algumas regiões européias o inverno e a primavera passadas estiveram entre os mais quentes já registrados, com até 4°C acima da média de janeiro a abril, indicou a OMM. Além disso, o sudeste da Europa sofreu duas ondas de calor extremo em junho e julho, com os recordes de temperatura máximas diárias superiores a 40°C. Também o sul dos EUA e partes do Japão registraram picos de calor neste verão.
A seca assolou regiões dos EUA, mas foi especialmente forte na China, que sofreu a pior seca dos últimos dez anos. A temperatura do ar também afeta o buraco da camada de ozônio e a OMM salientou ontem que, devido aos registros de inverno relativamente temperados na estratosfera, o buraco este ano foi relativamente pequeno. Desde 1998, o buraco só foi menor de 2002 a 2004. Concretamente, a extensão do afinamento da camada de ozônio sobre o continente branco alcançou em 2007 o máximo de 25 milhões de quilômetros quadrados em meados de setembro, em comparação com 29 milhões de quilômetros quadrados nos anos recordes de 2000 e 2006.
(Por Alicia Rivera, El País, tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves,
UOL, 13/12/2007)