A greve de fome do bispo do município de Barra (BA), Dom Luiz Flávio Cappio, em protesto ao projeto transposição do Rio São Francisco chega neste sábado (15/12) ao seu 19º dia. Segundo a assessoria de Comunicação do Movimento Articulação Popular pelo São Francisco, que acompanha o jejum do frei franciscano, no município de Sobradinho, a única fonte de alimentação dele tem sido a ingestão diária de 3 litros de soro caseiro.
A assessora do movimento Clarice Maia diz que Dom Luiz é acompanhado diariamente apenas por uma enfermeira que monitora seu estado físico, e se diz irredutível em relação à greve de fome. Ele continua a afirmar que só vai parar o protesto quando o governo federal colocar fim ao projeto de transposição do rio São Francisco. Da última vez em que se pesou há mais de uma semana, o religioso já tinha perdido 3 quilos.
Dom Luiz nasceu em São Paulo e está na Bahia há 33 anos. Na última semana, duas irmãs, um irmão e dois cunhados dele chegaram à Bahia para se solidarizarem. Assim como alguns moradores da região contrários ao projeto de transposição, os familiares têm feito jejuns simbólicos de um dia.
Num depoimento escrito em primeira pessoa para um jornal da Bahia, o frei fez um relato emocionado da sua convivência com o Rio São Francisco e explica o porquê da sua determinação, citando o exemplo de Mahatma Gandhi.
"Um dos movimentos mais profundos da história da humanidade tem sido a 'Não Violência Ativa e Firmeza Permanente', da tradição de um Gandhi. Agora mesmo, foi desencadeado um Movimento Jejum Solidário, que está crescendo em adesões em várias partes. São pessoas de religiões diversas ou mesmo sem religião confessional que jejuam por alguns dias em comunhão espiritual conosco. Que essa corrente de energia espiritual, sob a graça e o poder de Deus, toque o coração de homens obsecados pelo poder e o dinheiro! Não quero morrer, mas a vida do rio e do povo do rio e de todo o sertão nordestino vale meu sacrifício, se tiver que consumá-lo. 'Para que todos tenham vida (João 10,10)'", diz Dom Luiz.
(Estadão online, 15/12/2007)