Após negociações tensas em Bali, em que os Estados Unidos ficaram praticamente sozinhos em sua posição sobre as metas de emissão de poluentes, a comunidade internacional deu início neste sábado (15/12) a um novo processo de negociação sobre a questão das mudanças climáticas.
Representantes de 190 países debateram durante 13 dias, durante a Conferência da ONU sobre Mudança Climática, em Bali, na Indonésia, as bases das negociações que se desenvolverão entre 2008 e 2009. O objetivo é estabelecer um novo acordo contra a mudança climática, para o período pós-Kyoto, a partir de 2012.
A madrugada deste sábado foi marcada por intensas negociações, que terminaram em consenso, depois que os Estados Unidos recuaram de sua rígida posição inicial.
Horas antes, quando as negociações estavam emperradas, o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Ban Ki-moon, disse estar "decepcionado" pelos rumos das conversas.
A divergência principal entre a União Européia e os Estados Unidos era em relação aos compromissos de redução de emissões de gases do efeito estufa que os países desenvolvidos deveriam assumir.
A UE queria transformar a recomendação em metas obrigatórias, mas os americanos defendiam apenas a adoção de metas voluntárias e nacionais.
EUA isolados
Durante a reunião entre os representantes dos países, a chefe da delegação norte-americana, Paula Dobriansky, chegou a afirmar que Washington rejeitava a proposta de acordo porque queria um compromisso maior por parte dos países em desenvolvimento.
A declaração de Dobriansky foi recebida com protestos no plenário. Varias delegações responderam com firmeza à fala da norte-americana, enquanto aliados dos EUA, como Canadá e Austrália, ficaram calados.
Ban Ki-moon, que havia ido a Bali na quarta-feira (12/12), decidiu voltar à Convenção neste sábado para discursar para os representantes.
"Primeiramente, me apresento a vocês sem entusiasmo. Francamente estou decepcionado pela falta dos avanços", afirmou, conclamando as delegações a serem mais flexíveis, como forma de evitar o fracasso.
UE também recua
Na manhã de hoje (15/12), as negociações pareciam ter dado resultado quando a União Européia concordou em também fazer concessões e recuou em sua exigência de incluir no documento final da Conferência metas e prazos rígidos para a redução de emissão de gases poluentes por parte dos países desenvolvidos.
A UE dizia considera fundamental que o documento produzido em Bali para guiar as discussões nos próximos dois anos, o chamado 'mapa do caminho', incluísse referências às metas obrigatórias de cortes de emissão recomendadas pelo IPCC (Painel Intergovernamental para Mudança Climática).
Os norte-americanos, no entanto, eram contra qualquer menção a essas metas, que prevêem uma redução de 25% a 40% nas emissões dos países desenvolvidos até 2020. Os EUA propõem como alternativa a adoção de metas nacionais voluntárias.
O texto final acabou por mencionar apenas que a comunidade internacional "reconhece que deve haver severas reduções nas emissões mundiais".
Primeiro passo
Segundo o texto aprovado, o processo de negociação internacional para um acordo que reforce a luta contra a mudança climática a partir de 2012 deve começar, no máximo, entre março e abril de 2008.
Um novo acordo para o período pós Protocolo de Kyoto deve ficar pronto até 2009, para que os países tenham tempo de ratificá-lo.
(Folha online, com informações das agências France Presse, BBC Brasil e EFE, 15/12/2007)