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hidrelétricas do rio madeira passivos de hidrelétricas
2007-12-14
Apesar de possuir uma das fontes mais baratas de energia (energia hídrica), o Brasil enfrenta uma série de problemas no setor elétrico e a ameaça constante de "apagões". A privatização do setor, feita sob o argumento de que tornaria o serviço melhor e mais barato, acabou se transformando num desastre para o povo brasileiro. É o que conclui o coordenador nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Gilberto Cervinski.

Nos últimos anos, o MAB vem realizando uma série de ações contra o modelo energético implantado no Brasil, que implica questões como privatização, controle privado da água e da energia, preço abusivo de tarifas, entre outras. A iniciativa mais recente é a campanha contra a construção, no norte do País, do Complexo Rio Madeira, que vai contar com hidrelétricas, eclusas, hidrovias e uma linha de transmissão que irá de Porto Velho até São Paulo. A estimativa é de que, se for construído, o projeto vai inundar uma área de mais de 500 quilômetros quadrados e deslocar mais de 10 mil pessoas que vivem naquela região.

Ao se colocar contra a construção do complexo, Cervinski questiona a quem esse projeto irá beneficiar. "Construir as usinas no Madeira representa a abertura para construção de dezenas de outras hidrelétricas dentro da Amazônia, sem sequer discutir uma questão que entendemos ser fundamental: energia para quê? E para quem?". Segundo ele, o discurso do risco de apagão é utilizado para impor os aumentos nas tarifas de energia e o financiamento desses empreendimentos, mas que no final acabam beneficiando poucos.

O modelo energético atual está organizado em torno de dois grupos: no primeiro, os "consumidores cativosos", da qual faz parte a população e grande parte do comércio e da indústria de pequeno e médio porte. São eles que arcam com as tarifas mais altas sem, muitas vezes, receber um serviço de qualidade. Já o segundo grupo, são os chamados "consumidores livres", da qual faz parte a indústria eletrointensiva e grandes comércios como os shopping centers. Esse grupo recebe energia a preço de custo, apesar de consumir quase 30% da eletricidade produzida no Brasil. "Não se trata de ser a favor ou contra as hidrelétricas, mas de entender que a luta deve ser contra esse modelo energético perverso, que penaliza o povo e beneficia as multinacionais", explica.

Ao passar a ser controlada por empresas multinacionais, as tarifas do setor energético tiveram aumento na ordem de 400%. Além disso, 50% dos trabalhadores do setor elétrico foram demitidos. Além disso, a construção de empreendimentos como as hidroelétricas provocam impactos de ordem ambiental e social. Um grande número de famílias é retirado de suas casas, do lugar onde nasceram e cresceram, e obrigadas a mudar seu modo de vida para dar espaço às hidrelétricas.

Em todo o Brasil, as barragens já expulsaram mais de um milhão de pessoas. "Nos anos 70, período de construção de mega projetos hidrelétricos, os atingidos não possuíam nenhum tipo de direito, eram considerados os ‘afogados’ ou os ‘expropriados’. Tudo que conseguimos ao longo destes trinta anos foi através de muita luta. Porém, com a privatização, estes direitos (que não são muitos) estão sendo retirados a cada dia", ressalta Cervinski.  Quanto ao impacto ambiental, o coordenador cita a destruição de 6 mil hectares de araucária brasileira para a construção da hidrelétrica de Barra Grande, além de outros problemas como desaparecimento de espécies, aumento de doenças, etc.

A campanha contra a construção do Complexo Rio Madeira será feita por tempo indeterminado. Cervinski ressalta que todos podem ajudar. "A campanha é um chamamento a toda sociedade a juntar-se conosco neste levante contra a venda do Rio Madeira. Há diferentes formas de participar, seja através de lutas, de distribuição de materiais, de organização de debates, seminários, grupos de estudo, entre outros. Com isso queremos que a luta contra as hidrelétricas no Rio Madeira se transforme numa grande luta popular nacional e até internacional".

(Adital, 13/12/2007)

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