O governo federal está investindo em estudos para avaliar as possibilidades de uso do carvão nacional na siderurgia. Atualmente, o carvão utilizado pela indústria brasileira é importado. O consumo de carvão metalúrgico no País foi, em 2006, de 16 milhões de toneladas, ao custo de US$ 1,745 bilhão, constituindo-se no principal item de importação brasileira de matérias-primas.
A importação é justificada porque a maior parte do carvão brasileiro é não-coqueificável, ou seja, não pode ser transformado em coque, um combustível que pode ser empregado na produção de ferro-gusa. No alto-forno siderúrgico o coque cumpre duas funções, gera a temperatura de fusão e reage com o minério de ferro. As importações são provenientes de países como a Polônia, Estados Unidos, Canadá e Austrália.
O assessor especial da Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia, Irineu Capeletti, afirma que o tema está sendo retomado depois de um longo período relegado ao segundo plano. Capeletti argumenta que o foco dos estudos incentivados pelo governo será na multiutilização do carvão. Para tanto, acrescenta Capeletti, já está em execução o programa de capacitação laboratorial e de recursos humanos via projeto do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), com recursos de R$ 3,7 milhões oriundos do Fundo Setorial de Energia-CT-Energ do Ministério da Ciência e Tecnologia.
Para o período 2007-2010, o Ministério da Ciência e Tecnologia destinará R$ 52 milhões para projetos do Programa Pró-Carvão. Nesse contexto, além da alternativa de contar com produção nacional de carvão metalúrgico, há também a possibilidade de utilização de carvão não-metalúrgico em altos-fornos (PCI, Pulverized Coal Injection).
O Rio Grande do Sul tem interesse especial na possibilidade do uso do carvão na siderurgia, pois a região do Litoral Norte, próximo a Osório, verifica reservas com características adequadas para essa utilização. O insumo presente nessa localidade tem propriedades diferentes às do carvão da região de Candiota que não é indicado para a produção siderúrgica. As jazidas do litoral gaúcho, descobertas pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) na década de 70, nunca foram colocadas em operação. Estima-se que o volume de recursos existentes nessas jazidas chegue a cerca de 4 bilhões de toneladas.
O superintendente regional de Porto Alegre da CPRM, José Alcides Fonseca Ferreira, informa que um dos problemas para a exploração econômica do carvão do litoral é o fato de que ele se encontra a uma grande profundidade, entre 500 a 800 metros. Para viabilizar o aproveitamento desse insumo é preciso implementar uma mina de grandes proporções para se obter escala de produção.
Ferreira adianta que um projeto para comercializar o carvão do litoral gaúcho demandaria bilhões de reais em investimentos, pois incluiria a realização da mina, o processo de beneficiamento, um sistema logístico e ainda a construção de uma termelétrica para aproveitar o carvão que não fosse destinado ao setor siderúrgico. "Não pode tirar o carvão metalúrgico, que é o filé, e colocar o restante fora", diz Ferreira. O superintendente acrescenta que para uma ação como essa é preciso pensar em um projeto integrado.
Apesar de se tratar de um empreendimento ambicioso, o uso do carvão do litoral não pode ser considerado como uma utopia. Ferreira revela que a Vale do Rio Doce comprou parte dos direitos minerários da CPRM na região. Segundo ele, a empresa está avaliando a ampliação das pesquisas naquela região para obter mais dados sobre jazidas.
(Por Jefferson Klein, JC-RS, 14/12/2007)